Minha crónica de hoje no diário Incentivo
A EVOLUÇÃO DO NATAL E SUAS TRADIÇÕES
Apesar de o Natal ser uma festa celebrada ano após ano, a verdade é que a tradição já não é a mesma, mesmo ao promover-se natais de tradições, a evolução está aí e tudo hoje é diferente.
Sou ainda do tempo em que a época natalícia arrancava nesta terra e por esse País fora com a festa de Nossa Senhora da Conceição. Hoje, comercialmente começa muito antes e o feriado na prática foi substituído pelo Dia das Montras e já pouco se fala da Padroeira de Portugal. Em princípio, num Estado laico, isto não tem mal, mas não vem da tradição.
Sou ainda do tempo em que na noite de Natal as crianças vibravam com os presentes trazidos pelo Menino Jesus acabadinho de nascer, cheio de vida e portador de esperança no futuro. Hoje, elas anseiam pela vinda das prendas a desensacar por um velhote já inchado pelos abusos do passado, com barbas brancas em sinal duma vida a definhar e sem oferecer perspetiva de longo futuro.
Sou ainda do tempo em que muitas pessoas desinteressadamente se agrupavam em ranchos para cantar por esta ilha fora e tiravam de casa a restante população do Faial para os ir ver e conviver por todas as coletividades cheias de vida na ilha. Agora, numa sociedade desincentivada pela burocracia e ação inspetiva das finanças, atividades económicas e outras autoridades – sempre prontas a intervir para o Estado lucrar quando o Povo organiza algo tradicional que envolva dinheiro sem fins lucrativos – sobram apenas algumas poucas pessoas que formam ranchos para angariar fundos públicos para uma boa iniciativa social privada incapaz de sobreviver só com ajuda da comunidade. Assim fazem-se ranchos pelo subsídio que se exibem num único espaço do poder autárquico, enquanto a maioria dos Faialenses os ignora e deixa as instituições culturais e recreativas privadas vazias e moribundas, só que isto não é a tradição.
Podemos dizer que a sociedade evolui com o decorrer do tempo, mas será que este tipo de mudanças onde as tradições precisam de apoio institucional são evolução ou uma regressão?
A verdade é que antigamente havia pobreza, o que não impedia a alegria, as tradições e crianças em abundância, que renovavam as gerações e davam continuidade às tradições. A caridade cobria as dificuldades e provinha da boa-vontade das pessoas que davam voluntariamente do que era seu para ajudar quem mais precisava e o pouco dinheiro não impedia a existência de uma sociedade civil dinâmica que mantinha as suas tradições e pujantes coletividades.
Nesta evolução a caridade foi substituída pela solidariedade oficial, onde os políticos se exibem como beneméritos e redistribuem dinheiro que não é seu, mas cobrado à força aos cidadãos que trabalham e com escassez de rendimento para sobreviver, o que justifica falta de crianças, estarmos a envelhecer e incapazes de renovar as gerações e as tradições. Apesar de tanto apoio social, na passada semana noticiava-se que cerca de 40% dos Açorianos estão em risco de pobreza, quase um terço destes depende do rendimento mínimo e é evidente que a população nem consegue assegurar as suas tradições e as coletividades ficam moribundas sem os subsídios públicos dos impostos tirados às pessoas que são em parte devolvidos para garantir simpatias de quem foi eleito pelo Povo. Se isto é progresso que as pessoas querem, continue-se a evoluir.
Votos de um Feliz Natal e Próspero Ano Novo para todos.