O meu artigo de ontem no diário Incentivo
NO FIM VENCE SEMPRE A CONTA A PAGAR
Apesar de só agora se estar oficialmente em campanha eleitoral para a Assembleia da República para um novo Parlamento a que se seguirá outro Governo, na realidade, há meses que os vários partidos e coligações estão de facto em campanha, mas confesso que desta vez tenho acompanhado as atividades das candidaturas com um maior distanciamento do que fazia no passado e para isso contaram, sobretudo, dois motivos:
Primeiro sinto-me cada vez mais desligado dos assuntos nacionais e regionais, o meu interesse tem-se centrado essencialmente ao que se passa no concelho da Horta e, efetivamente, toda a minha vida de intervenção política foi, por opção pessoal, limitada ao exercício de autarca e de defesa do Faial e nunca ambicionei agir fora da minha ilha.
Em segundo lugar, ao ter acompanhado o que se passou nos vários países em crise, sobretudo dentro da zona euro, aprendi que a política contra a austeridade na prática é uma utopia: em todos estes países as oposições fizeram discursos contra esta, mas, na prática, quando as cores do governo trocaram retomaram-se as medidas impopulares. A única exceção de início foi, de facto, a Grécia; mas o fim foi ainda pior do que em todos os outros casos de conversão envergonhada e imediata à austeridade. Agora o Syriza de Tsipras convertido à austeridade venceu as eleições, enquanto o ainda resistente e recém-formado de Varoufakis nem um deputado elegeu.
Assim sendo, já conclui que, mesmo sem gostar, partido ou coligação que defenda a continuidade no euro, independente do que disser e propuser em campanha, se for Governo, acabará por aderir à austeridade.
Sei que há quem diga, e eu concordo, que para se mudar de política Portugal tem de se sair da moeda única, mas a Coligação que tem a coragem de assumir isto às claras está ideologicamente muito distante do meu pensar, pois nunca fui próximo do marxismo, menos ainda do soviético. Na verdade, a estratégia de se enfrentar a crise através da saída do espartilho do euro nenhum País da Europa a quis testar e deve haver riscos demasiado grandes para nenhum Governo ter querido experimentar isto… nem Tsipras!
Infelizmente, desde países grandes e ricos como a França, apesar de Hollande com o seu discurso de fim da austeridade que o elegeu, até países pequenos e pobres como o Chipre, todos no fim, para desilusão de muitos, renderam-se à austeridade. Até a Finlândia, que era o exemplo da riqueza e não queria ajudar Portugal, agora começou a apertar o cinto aos finlandeses, embora como o tivesse muito mais largo do que o nosso, continuam mesmo assim a viver em condições bem melhores do que os Portugueses alguma vez viveram. Mas a estratégia é precisamente a mesma: cortar.
Assim, com este histórico, independentemente das sondagens para as eleições, sei que a austeridade vai vencer no fim e, apesar disto me desagradar, pelo menos já não vou ficar surpreendido, é que, passado o período das promessas agradáveis, vem a escravatura da dívida e o discurso do não pagamos é impraticável e já percebi que quanto mais atraente é o discurso de uma força política, mais distante ele está do que irá acontecer na prática.
Durante décadas os governos nacionais e até regionais fizeram uma maldade estratégica no desenvolvimento de Portugal por puro interesse de se preservar no poder a curto prazo: usaram um truque ilusionista que dava a sensação de que nos estávamos a desenvolver ao ritmo da melhoria da qualidade de vida. Afinal era a ilusão do crédito, não apenas público, mas também privado e poucos alertavam que a conta a pagar estava escondida. Parafraseando uma ministra desses tempos de euforia: “era uma festa”.
O Povo acreditou que os credores eram altruístas que nos davam subsídios para investirmos em níveis de vida de sonho sem a devida necessidade de suporte de criação de riqueza interna, afinal quando se trata de dinheiro não há amigos, a fatura aparece sempre no fim para ser cobrada. Por isso ou pagamos nós ou deixamos a conta para os filhos das atuais gerações, mas alguém vai pagar a doer e quanto mais tarde… mais dói!
Não acreditando em alternativas à austeridade, a única coisa que me resta é que esta seja implementada com a melhor eficácia e justiça possível. Penso que já foram cometidos demasiados atentados a estes princípios que importa corrigir e apesar de rendido ao colete de força da realidade do euro, espero ter força e saúde para continuar a lutar por um Faial melhor e um Portugal mais justo, o que não é sinónimo de acreditar num futuro próximo fácil para a generalidade dos Portugueses.
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