A 4 de Julho de 1833, por ação do Duque d’Ávila e Bolama, o Faial assistiu à elevação da sua vila a cidade da Horta e capital de distrito. Para uma ilha que não chegaria aos 20.000 habitantes e uma cidade com menos de metade desse número, esta viu-se como um centro de prestação de serviços com uma importância politicoadministrativa acima da média dos de outros aglomerados populacionais de dimensão semelhante.
Numa época em que o comércio dos produtos agrícolas era sobretudo local, exceção para casos como o açúcar, café e especiarias, entre outros; este estatuto permitiu desenvolver uma classe urbana que se abastecia em produtos agrícolas no Faial rural, frutícolas no Pico e sustentava ofícios tradicionais em paralelo.
No último quartel do século XX e a Autonomia, com o peso histórico da Horta e a sua capacidade política reivindicativa, o Faial, apesar da dimensão, manteve o estatuto de prestador de serviços. Em paralelo deu-se globalização da economia e em simultâneo a sua terciarização regional, neste quadro o Faial nunca soube olhar para as ameaças aos seus setores secundário e primário.
Incutiu-se a necessidade de formação para encontrar saídas profissionais na administração e nos serviços, o setor terciário cresceu em número de trabalhadores e em peso na economia da ilha. Insistiu-se, ainda bem, na necessidade de manutenção de serviços no Faial e de investimento em projetos de investigação científica, turismo e infraestruturas; mas nunca se olhou e se tratou de sanear os problemas do primário e do secundário.
Certo que várias unidades industriais surgiram, por norma importando matéria-prima, sem grande capacidade de exportação, sem aproveitar os nossos recursos endógenos e com um mercado interno pequeno, mas as nossas unidades mais antigas iam silenciosamente desaparecendo: viu-se fechar a produção de telhas; os licores, refrigerantes e confeitos; e ainda; as vassouras, para não falar da indústria baleeira por imposição externa.
Sem grande alarido e unidade dos Faialenses, assistiu-se ao encerramento da fábrica de laticínios Martins & Rebelo, após a dolorosa transição da LAFAL , e depois dos investimentos na BJBorges, a fábrica de conserva de peixe passou para a COFACO e em silêncio levou o nosso pescado para ser transformado noutras ilhas, onde unidades maiores começaram a importar peixe para os Açores.
Numa forma desajeitada, viu-se a produção de leite atrofiar perante uma cooperativa sem condições de transformar a produção e deixou-se os agricultores abandonarem a actividade para depois lhes oferecer uma fábrica nova já sem matéria-prima e sem incentivos.
Em silêncio não se apoiou convenientemente a construção de barcos em fibra de vidro, apesar da Horta se rever como cidade-mar e da sua baía abrigar uma das maiores marinas oceânicas do mundo, e esta partiu para outra ilha.
Tudo isto é sinal do olhar doentio do Faial para o seu setor primário e secundário, que urge repensar, pois nem todos os faialenses poderão trabalhar em secretárias, investigar, ser técnicos ou prestar serviços a estes ou a quem nos visita. Mais reflexões noutro post.
É preciso agora olhar para o futuro, incentivar à criação de pequenas indústrias adaptadas a nossa realidade para serem sustentaveis, na agricultura também há muito que se poderia produzir por cá. Quanto ao facto das várias empresas fecharem ou deslocalizarem, também fico com a ideia de que foi um pouco por causa do nosso silêncio, e da nossa falta de reivindicação.
Concordo que é preciso olhar a hipótese de criar empresas que se possam sustentar cá, quer ao nível da matéria-prima, quer ao nível da venda, sendo a exportação um complemento após uma base inicial de sustentação sólida.