Efetivamente já cansava! Cinco meses em que nunca se soube qual o caminho que a Grécia trilharia no dia seguinte, muito tempo de impasse numa negociação onde a chantagem tem sido a arma de cada parte de modo a obrigar o outro a ceder. O primeiro a pôr um ponto final no braço de ferro foi Tsipras, ao convocar um referendo sobre a aceitação das negociações e a assumir que pela sua parte é pelo não.
Até ao resultado do referendo, continuarão os apoiantes de Tsipras e do seu discurso a dar-lhe todo o apoio e a considerá-lo um herói, como se esta consulta mais não fosse que um claudicar de uma das seguintes três teses:
1 – aceitar a austeridade e continuar no euro, como tem sido defendido pelo Governo de Portugal, um caminho lento, com sacrifícios e infelizmente também com injustiças cometidas que deveriam ter sido evitadas ou minimizadas, mas não o foram tanto quanto possível; ou
2 – recusar a austeridade e continuar no euro, o que foi defendido pelo BE, o Livre e algum PS que diziam que bastava ser exigente com a eurozona e criavam-se as condições para se ter o melhor de todos os mundos, um sonho que conjugava aumento dos rendimentos, crescimento económico, injeção de crédito dos credores e benefícios do euro;
3 – recusar a austeridade imposta e sair do euro, aqui a CDU foi uma voz coerente, um rumo diferente implicava sair da tutela financeira da moeda única com todos os outros inconvenientes, que ainda não são bem conhecidos e se teme também não eliminarem outros sacrifícios maiores.
Acabou-se o sonho do prazer de ter o sol na eira: o fim da austeridade; e os benefícios da chuva no nabal: a injeção de dinheiro da parte dos credores ao abrigo da eurozona como se defendia na segunda tese.
Em Janeiro parece que os gregos escolheram a segunda tese, ter as duas coisas em simultâneo, o fim dos malefícios da austeridade junto com os benefícios do euro, agora terão de optar de facto, pois neste braço de ferro, nem a força dos credores se quebrou, nem a chantagem do mais fraco venceu.
A democracia não é escolher a reunião do melhor de cada opção, mas sim selecionar uma com as suas vantagens e desvantagens, chegou finalmente o momento de se escolher o bom e o mau que cada alternativa tem, sem ser apenas as vantagens de cada alternativa com a eliminação dos incómodos de cada uma.
A democracia implica escolher um caminho, mas consciente que essa via não está isenta de desvantagens como alguns vendedores de sonhos utópicos durante anos têm vendido ao povo para cativar o seu voto, levando depois o País a situações insustentáveis. Agora tudo parecer ficar mais claro e caberá aos gregos finalmente a possibilidade de uma escolha consciente e realista cuja opção deve ser respeitada… o fim da utopia do mundo sem sacrifícios que reunia apenas as coisas boas.
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