Meu artigo de hoje no diário Incentivo:
MEDIDAS AVULSAS IMPEDEM O DESENVOLVIMENTO
Há anos que Portugal e os Açores não têm governações nem oposições com visão estratégica para levar a cabo um projeto de desenvolvimento para o Pais coerente e sustentável a longo prazo. Governa-se para os telejornais, as redes sociais ou calar grupos de pressão. Tomam-se decisões avulsas onde cada medida solta anunciada por si só parece justa e popular mas, na prática, falha por não ser consistente com a realidade no terreno e ser mesmo contraditória com outras em vigor.
A denúncia por instituições internacionais do crescimento do risco de pobreza em Portugal nos últimos anos, pior ainda nos Açores, apesar da propaganda governativa a encher a boca com justiça social e o fim da austeridade, levou ao anúncio apressado de combate à pobreza do aumento do salário mínimo bem acima da inflação e a alterações no regime regional de remuneração complementar para os vencimentos mais baixos. Não se vendo o conjunto esta decisão é de facto uma boa iniciativa, mas os Governos da República e dos Açores mantém congelados o aumento da maioria dos restantes salários baixos que não mínimos. Assim, os muito pobres ficam talvez menos pobres e os que sobreviviam acima da miséria ficam todos um pouco mais pobres, ou seja, disfarça-se a pobreza tornando a grande maioria mais pobre.
Há anos que alargar o ensino superior é um objetivo nacional, mas como os salários estão cada vez mais miseráveis e os Governos a cortar dinheiro às Universidades, como bem denunciou o Reitor da Universidade dos Açores, estas veem-se forçadas a aumentar as propinas para sobreviver. Assim, apesar do anunciado crescimento económico que o povo não sente, houve uma diminuição em 5,6% de candidatos em 2018 à Universidade, muitos porque não têm para pagar as propinas e as rendas de quartos. Logo se falou da medida popular: o fim das propinas! Sem dúvida boa. Portugal precisa de licenciados como do pão para a boca. Só que quando os recém-formados descobrem que os licenciados já com 10 anos de carreira estão a ganhar pouco mais de 200 euros do que os sem canudo, começam a procurar emprego no estrangeiro que recebe de mão beijada estes novos licenciados pagos com os nossos impostos, enquanto nós ficamos sem médicos e enfermeiros nos hospitais e o Estado sem verbas para pôr jovens engenheiros a fiscalizar as obras ou colocar nas Escolas os novos professores, etc. O Governo disfarça a falta de licenciados com anúncio do fim das propinas e com os congelamentos exporta esta gente com curso, mas isto não diz nem resolve.
Há meses Vasco Cordeiro referiu que não era justo pôr os Açorianos a pagar o aumento da pista da Horta por estar concessionada a privados, apesar dos grandes beneficiários serem os Faialenses e a economia das ilhas do Triângulo. Não se pedia para a Região suportar os custos todos deste projeto, só um contributo que viabilizasse a ampliação, pois uma componente caberia à ANA, outra ao Governo da República e a grande fatia aos apoios da União Europeia. Agora, após o Governo dos Açores ter feito campos em São Miguel que empresas privadas exploraram e faliram ao gosto dos interesses ali instalados, o Presidente do Açores anuncia a intenção de comprar de novo aqueles campos e repartir as despesas por todos, inclusive Faialenses, por tal beneficiar o turismo dos Açores. Como se os agentes turísticos no Triângulo, restauração e outros setores económicos por estas bandas beneficiassem com aquela compra. Não era justo o Governo dos Açores contribuir em parte numa obra em benefício do Faial explorada por um privado, mas já é justo os Faialenses pagarem os desmandos de projetos por nós pagos e depois geridos na privada em S. Miguel.