
“O Declínio do Ocidente” de Niall Ferguson, editado pela Dom Quixote, é sobretudo uma análise da evolução de quatro campos que estruturam os Estados e o torna mais ou menos aptos em termos concorrenciais com outros e permitem dar melhores condições aos respetivos povos: a democracia ou a política, o capitalismo ou a economia, o estado de direito ou a justiça e a sociedade civil ou a participação cívica. Ao longo da obra e através da evolução destes pilares nos últimos tempos o autor demonstra e justifica porque a Europa e os Estados Unidos estão globalmente menos competitivos e se degrada o nível de vida da classe média dos seus cidadãos.
Não posso dizer que concordo com tudo o que Ferguson conclui, mas é interessante ele basear-se na comparação de um Estado a uma colmeia humana onde o alargamento da administração é equiparado ao aumento de zangãos à sombra das obreiras e considerar as enormes dívidas soberanas como uma rutura de um contrato social intergeracional, aspetos que constrangem a competitividade do ocidente. Contudo o autor, ao contrário do que o título sugere, não considera assegurado um futuro brilhante para a China pois a falta de democracia compromete a transparência necessária para um continuado progresso económico e social.
Uma aspeto interessante trabalhado no livro é a evidenciação de que pior que a desregulação financeira é uma má regulação, burocrática e ineficaz que em si é uma doença a assumir o papel de cura e tem sido a via adotada no ocidente, sendo o autor um adepto do capitalismo e do liberalismo a receita estaria num sistema onde a simplicidade, a prudência e a responsabilidade criminal dos banqueiros e gestores seriam o motor da economia.
Ao nível da justiça Ferguson usa e abusa do orgulho britânico para defender o direito comum inglês que considera mais apto na busca de resolução de conflitos que dinamizam os investimentos face aos herdados do Velho Continente que são mais complexos e defensores dos interesses do Estado que trava a economia, alerta para a tendência da burocracia excessiva, para o primado dos advogados e a onerosidade da justiça como restrições à liberdade necessária à evolução da sociedade e competitividade.
O autor não é menos complacente com os cidadãos do que é com políticos e agentes económicos e da justiça. A exigência do Estado democrático satisfazer todas as necessidades das pessoas, sem dar lugar à concorrência público privado, cria povos acomodados e hiper-protegidos que deixam de intervir coletivamente, o que degrada a vitalidade dessas sociedades, condenando o País ao endividamento e perda de dinâmica competitiva económica e social.
Mesmo discordando em vários aspetos com Ferguson, muito dos problemas que aponta no livro e soluções que propõe devem ser conhecidos e refletidos por todos antes que seja demasiado tarde para o ocidente…
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