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Posts Tagged ‘personalidades’

“Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro nos céus; depois vem e segue-me. O jovem, porém, ouvindo estes preceitos, retirou-se triste; porque tinha muitos bens.” (Mt. XVIII, 21,22). A mensagem de partilhar a riqueza vem de Cristo e quem conhece a doutrina social da Igreja sabe que está escrita oficialmente no Catolicismo. Agora, tal como Jesus convidou o jovem rico à partilha e o deixou livre para recusar e tristemente se afastar, também a Igreja não força nenhuma classe, quer a conversão das pessoas, não a revolução política.

Agora o convite para esta conversão não está dissociado da denúncia da injustiça social que se assiste e é mesmo um método para convidar o Mundo para uma mudança, à conversão para seguir Jesus. Só que, tal como o jovem rico, são as pessoas que compõem o mundo que, livremente, tristes ou alegres, recusam esta Mensagem ou a aceitam respetivamente.

No julgamento de Jesus, Pilatos deixou ao mundo duas escolhas alternativas: a proposta pacifista de partilha e conversão interior com repercussões no indivíduo de Cristo ou a ação revolucionária de Barrabás, com o assalto forçado aos bens em detrimento do convite à partilha voluntária da riqueza. O resultado desta votação é conhecido e o mundo de hoje, frequentemente, não é muito diferente.

Entre a Mensagem Cristã e os discursos revolucionários populistas de qualquer lado ideológico há uma distância enorme, mesmo quando a imperfeição humana impede o crente de ser plenamente como Jesus pedia ou o do ativista político não ver o papel da conversão livre na sua busca da Justiça.

O grande dilema da Mensagem do Papa Francisco, e ele não esconde que sente isso nas entrevistas que estão na base do livro “Esta economia mata“, pois percebe que com o seu discurso quer apresentar Cristo ao Mundo para este se converter e seguir Jesus, mas o Mundo tende a interpretar a denúncia como um apelo para seguir a via de Barrabás, mas já há quase dois mil anos que este desencontro existe e suspeito que isto nos caracteriza como Homens imperfeitos sujeitos ao erro.

Bem-vindo Papa Francisco a Fátima e, como tal, a Portugal.

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Ontem Guterres tomou posse como Secretário-Geral da ONU, o cargo diplomático internacional mais importante da Terra e Cristiano Ronaldo foi eleito mais uma vez como o melhor futebolista do Planeta, o desporto de maior afeição deste Globo. Ambos os casos prestigiam o nome de Portugal, mas o primeiro jurou isenção para não agir no interesse de nenhum País em particular, enquanto o segundo parte do sucesso se deve ao ter vestido a camisola Portuguesa que levou a sua nação ao título de campeã europeia.

Assim, embora haja motivo de orgulho pelos lugares de topo alcançados por estes dois cidadãos, há que ter consciência que Guterres nada pode fazer em particular para Portugal resolver os seus problemas, teremos de ser nós a ultrapassar as nossas dificuldades.

Já em relação a Cristiano Ronaldo, pelo menos tem a obrigação de lutar na seleção nacional para esta vencer os obstáculos que lhe venham a surgir nos próximos tempos.

Assim no campo político podemos ter muito prestígio diplomático, mas é uma presunção que em nada serve para sairmos da crise em que nos metemos, aliás já vimos isso no passado, não tirámos qualquer benefício na Europa quando o Presidente da Comissão Europeia foi um Português.

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Marcelo_Rebelo_de_Sousa

Hoje é dia de mudança da pessoa que ocupa o cargo mais alto da República Portuguesa, a Presidência da República, embora sem as responsabilidades de gestão pública mais importantes do País, que cabem ao Primeiro-ministro. Por isso, é mais uma mudança de um vaso na decoração política do que um pilar do sistema, embora, pontualmente, em situações extremas de crise possa ter um papel de pedra basilar do edifício institucional de Portugal e a beleza de uma decoração pode ser importante na qualidade de vida das pessoas.

Na presidência Cavaco Silva pautou-se pelas suas convicções e estas não tendem a gerar unanimidades, antes pelo contrário, a convicção é um dos caminhos mais curtos para divisão, quando se defende uma convicção pessoal dificilmente se está aberto a consensos e o Presidente que hoje sai, apesar de apelar a consensos entre forças políticas, na hora de tomar isoladamente opções seguiu sobretudo a sua ideia pessoal e não a via popular para agradar os outros. Claro que não agiu sempre tão mal como as frentes que o atacaram permanentemente, mas deixou-se fechar em assuntos que eram mais de crença pessoal do que de tolerância para com a diferença e isso foi-lhe fatal em termos de popularidade, agravado por ser filho de uma família do povo e por isso um elemento exterior ao grupo dos históricos elitistas de Portugal que nunca aceitou o seu sucesso político.

Marcelo Rebelo de Sousa, apesar de ser conhecido como católico de centro-direita, tem agido e falado, sobretudo, orientado por uma lógica de afetos e de busca de tentar ser consensual com os outros, por isso as suas posições tendem a adaptar-se ao momento e muitas vezes simpáticas para com o senso-comum, que nem sempre é racional e correto. Tem antepassados da elite nacional, não tem pergaminhos anti-ditadura, antes pelo contrário, por isso talvez a sua maior necessidade de colocar o sentimento e a simpatia para colmatar essa lacuna. Não sei ainda como será o seu mandato, mas a sua postura é a oposta ao seu antecessor. Espero que venha a decidir no sentido do que for melhor para o futuro Portugal, o que nem sempre é o mais agradável a curto-prazo.

Curiosamente muitos dos que criticavam Cavaco Silva pelo facto deste seguir as suas convicções rigidamente em detrimento da vontade de outros, são os mesmos que criticam Marcelo por este se moldar aos ventos do momento e chamam-lhe catavento.

Não sendo eu um republicano convicto e pouco valor dar à Presidência da República nos moldes como esta está definida neste País, espero ao menos que Marcelo Rebelo de Sousa, dentro das suas competências, saiba ser um bom timoneiro deste navio à deriva que é Portugal e o segure num rumo para um futuro melhor. Boa Sorte!

(foto da wikipédia)

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O atual Primeiro-ministro vai propor o antigo Primeiro-ministro António Guterres a Secretário-Geral das Nações Unidas, talvez o cargo diplomático mais prestigiante e mediático do Mundo.

Guterres está no pequeno grupo de políticos de Portugal que para mim são um exemplo de honestidade pessoal e humanismo, infelizmente fraco a enfrentar os vícios que sujam o meio político. Quando Primeiro-ministro foi incapaz de desatar as mafias de pressão instaladas em torno do poder, pois em vez de as enfrentar, demitiu-se e os vícios sujos continuaram de vento em popa a agir ocultamente apenas com outros atores em cima do palco político mediático.

Como Alto-comissário para os refugiados (ACNUR) Guterres esteve no seu meio natural – a diplomacia por causas humanitárias -, foi uma voz em defesa das vítimas da injustiça da política internacional, terá ajudado muitos, minimizado os problemas de outros, mas logicamente não eliminou nenhum dos vícios que minam a política internacional. Os refugiados da Síria aí estão como prova dos egoísmos e interesses nacionais a sobreporem-se ao bem coletivo dos povos.

Sem dúvida que a ser eleito, isso será o coroar máximo de uma carreira diplomática, mais prestigiante do que com capacidade executiva para mudar a política internacional, um meio quase exclusivamente dominado pelas vontades das superpotências mundiais, que até muitas vezes se aproveitam do objetivo inicial da ONU para a usar como arma em favor dos seus interesses e não para bem dos povos.

Desejo que seja eleito, uma ambição que há muito Guterres dava sinais de ter e terá sido a causa de não se ter candidatado a Presidente da República de Portugal, deixando o PS órfão nas eleições presidenciais de 2016, mas ele ficou liberto da responsabilidade de lutar por um País super-endividado, em crise e cheio de vícios, problemas para os quais já demonstrara não ter força para enfrentar.

Guterres se chegar a Secretário-Geral da ONU será usado como um exemplo de prestígio de Portugal. Nada mais errado! Já ocuparam este lugar cidadãos do Myanmar, Gana, Peru e Egito, os três primeiros estão entre os estados mais pobres do mundo e nunca foram exemplos de prestígio internacional, o asiático nem é um exemplo de democracia, e a nação egípcia é sem dúvida uma das mais problemáticas na bacia do Mediterrâneo… por isso o Portugueses tirando o orgulho saloio, não terão nenhum dos desafios que enfrentam vencidos com esta eleição, mesmo assim, pelo seu humanitarismo e honestidade desejo que seja eleito.

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Tenho uma grande admiração pela genialidade de Stephen Hawking de análise científica no domínio da ciência e pela forma pessoal como ultrapassou as suas dificuldades locomotoras e de comunicação devido à sua doença degenerativa do seu corpo.

Todavia a forma como a notícia sobre a descoberta da instabilidade do bosão de Higgs ou “partícula Deus” pode destruir o universo e a forma como põe depois água no alarme demonstram que também os grandes homens da ciência nos tempos do mediatismo global que correm também não são alheios às tentações de transmitir os seus conhecimentos de forma especulativa para atrair atenção da comunicação social e vender o seu trabalho.

Já se sabe que a qualquer hora o universo pode ser destruído, mas é altamente improvável que seja para já… apesar do ateísmo convicto e confessional de Stephen Hawking, o mesmo assimilou muito dos discursos do fim do mundo das várias religiões cristãs e também aprendeu com estas a forma de evitar cair no ridículo destas no passado.

Não havia necessidade… mas até o nome de partícula Deus mostra que os dogmas religiosos nem sempre são tão afastados das verdades científicas, o caminho para chegar às mesmas conclusões e a forma de explicar é que seguramente não são os mesmos.

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Assumo que em 1987 já estava estava suficientemente desperto para as causas políticas para me parecer estranho não ter memória da ocorrência de um escândalo naquele ano associado ao Governo de Cavaco Silva por votar contra a libertação de Mandela.

Sei que se estava em anos de perestroika na União Soviética, mas a guerra fria estava forte com os primeiros avanços das ideias duras de Reagen e Tatcher. Lembro-me de quanto fiquei chocado quando um livro de Saramago foi censurado pelo Governo para não representar Portugal num concurso literário europeu, sobretudo por questões religiosas, pois a obra até era das menos político-ideológicas deste  escritor.

Assim, senti-me surpreendido que sem me lembrar de qualquer escândalo daquela época a condenar atitudes do Governo de Cavaco menos aceitáveis sobre Mandela, num período em que Mário Soares era Presidente da República, agora viesse à tona comportamentos condenáveis daquela época.

Apesar de não me rever em muitas justificações de Cavaco Silva Presidente hoje em dia, eis que este veio deixar claro que na época Portugal condenou uma resolução de libertação de Mandela que legitimava a violência contra o apartheid, enquanto aprovou outra no mesmo dia que apelava à libertação incondicional daquele preso político, condenava o racismo do regime e optava por soluções pacíficas para o problema. De facto Mandela tornou-se grande e diferente de outros lutadores quando renunciou à luta armada e optou pela via do perdão e da política justa.

O que aconteceu nos últimos dias em torno das acusações a Cavaco demonstram bem como certas pessoas e ideologias são tendenciosas, abusam de meias verdades para alterar a verdade da história, legitimar os seus argumentos e branquear o seu passado aliado de ditaduras e regimes de terror.

A manipulação da informação sempre foi uma arma perigosa e as minhas dúvidas sobre a honestidade de muitos que se consideram exemplos de honra e de verdade foram agora confirmadas. Verifiquei que os mesmos não são: nem mais limpos do que aqueles que são por eles acusados de mentirosos, nem mais honestos, nem salvaguarda dos direitos e liberdades que dizem defender. Se antes não confiava nas suas palavras de amor à justiça e verdade, agora ainda menos.

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Não sei quem foi seguramente o maior vulto do século XX a lutar e a sofrer por causa de políticas mais humanas, mas Nelson Mandela foi um dos maiores seguramente e por ter morrido ontem está valorizado, enquanto outros estão momentaneamente subvalorizados e se calhar alguns mesmo esquecidos.

Para mim, neste panteão, além de Mandela, têm seguramente lugar outras pessoas como: Luther King, Mahatma Ghandi. Provavelmente até há outros.

Luther King lutou pela dignificação dos negros nos EUA, numa sociedade onde a democracia tinha cor branca e os negros eram minoria. Não foram as armas os seus instrumentos para alcançar a justiça, nem a sua causa era ideológica, foram os seu discursos baseados na sua fé cristã e a sede de justiça os motores da sua luta.

Mahatma Ghandi sentiu na pele a discriminação racial como indiano precisamente na África do Sul, mas foi na Índia e perante todo o seu povo sem direito à autodeterminação e manietado pelo império britânico que decidiu lutar pacificamente pela independência e alcançar a justiça para os indianos, mas com recurso aos valores das religiões com que estivera mais em contacto: cristã, hindu e islâmica. Fica-me na memória a simbólica marcha do sal.

Nelson Mandela perante o apartheid não iniciou a luta de forma pacífica, o seu arranque inicial foi como guerrilheiro com os instrumentos que  a maioria negra pobre tinha à mão ou conseguia alcançar. Não era propriamente um arauto da paz e do perdão perante uma minoria branca racista e exploradora das riquezas do País. Foi a sua prisão como homem de luta armada que o converteram para os valores do perdão e dos instrumentos pacíficos para alcançar a vitória política da sua causa de justiça.

Não faz mal lembrar o arranque como guerrilheiro de Nelson Mandela, ele foi sempre um homem que lutou por uma causa justa, mas o método não foi sempre o mesmo e foi a sua capacidade de na prisão conhecer um homem branco que  lhe permitiu descobrir no adversário que mesmo diferente na cor  o adversário era um ser humano igual que também deve ser respeitado, o que fez ver nele que a vingança não era a arma para se alcançar a solução justa e pacífica e aqui tornou-se no grande Homem cuja a vida nos deixou ontem, mas cujo legado fica.

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Não contesto a sapiência económica de António Borges, nem a sua inteligência, nem coerência do seu discurso com o seu pensamento, nem até a crença que possuía nas suas ideias.

Mas – independentemente da figura de Robin dos Bosques que rouba aos ricos para dar aos pobres o que não era seu ser mais simpática e admirada que a de um honesto empreendedor que de uma pobre origem constrói um império ou fortuna -a verdade é que alguém de barriga cheia, mesmo que parte dos seus elevados rendimentos tenham sido pagos por grupos estrangeiros venha pedir sacrifícios aos pobres que mal têm condições para sobrevivência, é sempre um ato ofensivo e ostensivo que mostra incompreensão para as dificuldades de quem quase nada tem.

Não tenho complexo em dizer que não acredito que uma economia e uma sociedade cresçam de forma sustentada  e saudável gastando o que não tem e distribuindo bens pelos mais desfavorecidos através do endividamento. Defendo que é preciso crescer de forma racional e tal é mais lento e exige mais sacrifícios que o desejo de muitos, mas a justiça também é tão importante quanto a sustentabilidade económica e era esta sensibilidade que não se vislumbrava no discurso de António Borges.

Assim, compreendo que mesmo na sua morte a habitual desculpa que tradicionalmente perdoa os lapsos dos falecidos não tenha sido unânime neste caso, mas lamento ainda mais que entre os vivos haja falta de sensibilidade para a necessidade de fazer crescer a economia com justiça e solidariedade para com os mais fracos.

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