
“O Islão e o Ocidente, a grande discórdia” de Jaime Nogueira Pinto é um síntese da história das relações diplomáticas, guerras e tensões entre o mundo ocidental dito cristão e os povos do oriente na sua maioria convertidos ao islamismo desde o aparecimento desta religião até à atualidade.
Apesar de muitas vezes se atribuir este tipo de tensões como fruto da intolerância destes dois credos religiosos, o livro demonstra que se a fé pode ter fomentado guerras entre as partes, não foram menos importantes os interesses políticos e geostratégicos, muitas vezes dentro do mesmo bloco, dos países envolvidos no envenenamento das relações entre os mundos ditos cristão e muçulmano e, presentemente, até o laicismo e ateísmo militante que grassa nalguns Estados do ocidente é um fator que fomenta discórdia e terrorismo dito religioso.
O autor denuncia acontecimentos como as cruzadas e os interesses paralelos não religiosos dos interveniente que comprometeram negativamente estas relações, bem como outros momentos que alimentaram a desconfiança e o ódio, como o surgir e a expansão do império otomano, a evangelização nas descobertas em paralelo com motivações económicas e coloniais, a coligação estratégica da Europa para desmantelar o domínio turco, a descoberta do petróleo e sua importância na industrialização, as rivalidades entre xiismo e sunismo, o colonialismo, a guerra fria, o laicismo agressivo, a primavera árabe e o sionismo. Tudo pesa e mistura aspetos de crença, orgulhos nacionais, visões fanáticas, sedes de justiça e de liberdade.
No fim fica claro que neste relacionamento não há soluções fáceis nem verdades racionais absolutas pois tantas são as variáveis e complexas onde em ambos os lados há culpados e inocentes, interesses ocultos e aproveitamentos demagógicos.
Um excelente livro de fácil e rico de informação, onde o papel de Portugal na história não é omitido, que recomendo para melhor se compreender o que está na origem e distingue a Al-Qaeda do DAESH, as motivações, os erros do ocidente e as suas sequelas, a revolução do Irão, as guerras do Afeganistão, do Golfo e da Síria, a primavera árabe, os refugiados e o terrorismo jihadista e os equilíbrios precários que ligam tudo isto e inclusive os posicionamentos atuais que do lado de cá e de lá continuam a inflamar esta discórdia.
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