Meu artigo de ontem no diário Incentivo.
20 ANOS DA ADELIAÇOR: PARABÉNS!
Fui recentemente surpreendido num telejornal pela reportagem de comemorações do vigésimo aniversário da criação da Associação para o Desenvolvimento Local de Ilhas dos Açores, abreviadamente – ADELIAÇOR, cujo nascimento oficial ocorreu a 28 de setembro de 1994, com a subscrição em cartório dos seus estatutos por 15 pessoas, a título individual ou em representação de entidades, entre as quais tenho orgulho de estar incluído.
Tal como nos bebés, a conceção deu-se meses antes de a ADELIAÇOR ver a luz do dia. Ocorreu numa reunião das Juntas de Freguesia do Faial com o vereador Rui de Jesus Goulart, onde foi lançado o repto de se criar uma associação para a ilha se candidatar e gerir fundos do programa comunitário LEADER II, destinado a apoiar projetos de desenvolvimento no espaço rural dados pela então Comunidade Europeia e na sequência de um desafio lançado antes, penso que pelo então Diretor Regional com o pelouro da agricultura, a vários autarcas dos Açores.
Foram então nomeados dois Presidentes de Junta para assumirem o projeto, eu próprio, eleito pelo PSD, e Carlos Carepa, eleito pelo PS, desde então começou a gestação desta Associação, ainda sem dinheiro e sem saber com rigor as regras que tinha de respeitar.
Com o tempo soube-se que havia uma área e população mínima e como tal teria de se estender ao Pico, São Jorge, Flores e Corvo. Precisaríamos assim de fazer pontes de confiança com as principais forças-vivas destas ilhas, elaborar estatutos e ter conhecimentos jurídicos das exigências europeias e nacionais. Reconheço que a cooperação entre mim e o Autarca das Angústias foi ótima, o ideal de se criar uma entidade em benefício das populações apagou qualquer preconceito partidário e nenhum de nós tinha pretensões pessoais a tais fundos. Movíamo-nos pelo serviço às populações sem interesses individuais. A forma como eu ainda hoje sinto que se deve estar na política.
Não foi um tempo fácil, o apoio financeiro à criação era escasso, as ilhas eram muitas, dispersas e sofriam entre si desconfianças bairristas que precisávamos de curar e transformar em cooperação. Contratou-se uma equipa administrativa e jurídica a tempo inteiro para a burocracia necessária que muito trabalhou. Fizeram-se contactos profundos com as nove Câmara Municipais da área que serviram de intermediárias e envolveram Juntas de Freguesia, Casas do Povo, Associações Agrícolas, Cooperativas, Filarmónicas, a Câmara do Comércio da Horta e pessoas interventivas.
Assim, foi-se gerando uma entidade onde todos depositavam confiança na Comissão Instaladora, que do Faial já envolvia a JAGRIFA, a AAIF e a Câmara do Comércio e foi nessa boa-fé e sem bairrismos que se tornou viável irem ao cartório 15 residentes desta ilha oficializar o nascimento da ADELIAÇOR em nome de dezenas de potenciais sócios dispersos pelo Pico, São Jorge, Flores e Corvo, que moralmente também seriam merecedores do estatuto de fundadores.
Fizeram-se as primeiras eleições dos órgãos sociais, Carlos Carepa ficou Presidente da Assembleia Geral, eu da Direção com Jacinta Melo a representar a JAGRIFA, e José Borges a Câmara do Comércio, para permitir um quórum de residente nesta ilha nas assinaturas urgentes, mas existiam elementos de outras ilhas. Não foi um mandato fácil, havia muitas incertezas, os projetos candidatos eram muitos, a burocracia legal enorme, o dinheiro demorava a vir e tinham-se despesas correntes como salários. Mas eu já então temia dívidas e que estas pudessem comprometer o futuro da ADELIAÇOR perante a banca. Cheguei mesmo a emprestar sem juros à instituição verbas para esta cobrir vencimentos e encargos urgentes e esta ficou saudável e devolveu-me quando lhe foi viável.
Definiram-se regulamentos, os fundos comunitários começaram mesmo a chegar, tive críticas (normal para quem assume estratégias): as candidaturas teriam de ser pequenas por precaução inicial e o dinheiro chegar para todos. Já então preferia as de setores reprodutivos criadores de emprego, só que estas eram mais escassas, mas por fim saíram os primeiros apoios. Veio sismo e tive de sair, mas outros sucessivamente foram assumindo as rédeas com as suas ideias. A ADELIAÇOR cresceu. Hoje é uma Associação madura, respeitada e ao serviço das cinco ilhas.
Sempre tive como princípio que na minha vida pública me competia semear projetos e apoiar coisas boas para a sociedade, mas seria esta a colher os frutos e não eu. Assim fiz com ADELIAÇOR. Não mais interferi com ela, nem dela me servi e vejo-a agora a comemorar já 20 anos. Parabéns e obrigado a todos os que desde então confiaram e deram o seu melhor para que hoje a Associação para o Desenvolvimento de Ilhas dos Açores esteja viva e saudável.
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