O meu artigo de ontem no diário Incentivo:
O RISCO DA FALTA DE COMPARÊNCIA DOS AÇORIANOS
Se existe algo que os Açorianos não se podem queixar em eleições europeias é de por norma ficaram sub-representados nas listas de candidatos a eurodeputados pelos maiores partidos nacionais. Pois, ao longo de décadas têm sido colocados residentes desta Região em posições de grande probabilidade de serem eleitos para poderem levar ao coração da União Europeia as questões que interessam aos Açores e estou convencido que, por muitos defeitos eventuais que possam ter, ninguém terá mais interesse em defender este Arquipélago do que os políticos aqui residentes e de cuja eleição dependa quase em exclusivo dos habitantes e governantes destas ilhas.
Este ano os dois maiores partidos tradicionais até colocaram os representantes desta Região Autónoma nas suas listas em posições à frente da dos indicados pelas estruturas da Madeira, apesar de esta ter mais eleitores e ser economicamente mais forte. Isto depois de no mandato anterior, ao contrário do que aconteceu para muitos dos eurodeputados eleitos e residentes pelo Continente, os órgãos de comunicação social regionais terem coberto com frequência os trabalhos desenvolvidos no Parlamento Europeu dos que então lá estavam eleitos pelos Açores.
Também não houve dificuldade de se conhecer nos Açores quem individualmente fora agora indicado para representar a nossa Região em Bruxelas, pois, e de novo ao contrário do Continente onde em campanha quase só se ouvia falar dos cabeças de listas, no nosso Arquipélago foram sobejamente referidos e vistos na comunicação social regional os nomes e as caras dos candidatos açorianos e estes até expuseram mais ao eleitorado ilhéu os problemas das ilhas que pretendiam discutir no Parlamento Europeu do que os candidatos continentais que quase se limitaram a falar de política interna sem esclarecer as questões que queriam levar a Bruxelas.
Não sendo os Açores uma região rica, tem precisado de pedir apoios à União Europeia e talvez não haja no Arquipélago força política, económica ou social que não tenha ao longo das últimas décadas deixado de reivindicar mais fundos comunitários. É mesmo evidente por cá que todas as obras ou atividades produtivas regionais recebem subsídios, tanto para a construção de infraestruturas, como para a sustentação da agricultura, das pescas, do turismo, da indústria ou do artesanato, sem falar dos apelos à preservação de cotas leiteiras necessárias à sobrevivência da nossa agropecuária.
Apesar de todos estes aspetos que deviam ter deixado os Açorianos melhor esclarecidos que a maioria dos Portugueses sobre a importância da Região estar bem representada e legitimada para defender os interesses do Arquipélago em Bruxelas e perante os centralista de Lisboa e assim dar força à nossa embaixada no coração das decisões da Europa, razões que deveriam motivar uma maior participação regional nas eleições europeias que no resto do País, a verdade é que se a abstenção nacional rondou os elevados 66%, esta nos Açores foi bem maior e até atingiu os 80%.
Nestas eleições ao nível do Arquipélago não se colocou em questão estruturas da nossa Autonomia ou sua governação, apenas esteve em causa eleger residentes nestas ilhas para defenderem o interesse desta Região que se sente desfavorecida e por isso recorre ao estatuto da ultraperifericidade para pedir mais dinheiro a Lisboa e a Bruxelas do que a quantia que nos querem dar. Todavia este desinteresse dos Açorianos em participar em atos eleitorais suprarregionais só enfraquece as forças políticas que deveriam interceder pelos Açores perante representantes de outras zonas que até têm mais peso eleitoral, maior mobilização para se manifestar nas urnas e até concorrem connosco na angariação de verbas para resolver os problemas deles.
A seguir este caminho, eu não me admiraria que no futuro os Açores fossem perdendo poder político e negocial e que pessoas das ilhas, mais conhecedoras a fundo do Arquipélago e que em Bruxelas até têm obtido várias conquistas a bem da Região, deixassem de ficar em lugar elegíveis e assim viessem a desaparecer do Parlamento Europeu.
Infelizmente, nós continuamos a necessitar que nos defendam das ameaças do fim das cotas leiteiras e da redução das 200 milhas da nossa ZEE, que nos compensem dos custos da insularidade e da ultraperiferia, entre outras coisas. Mas com esta abstenção arriscamo-nos a que o nosso lugar seja ocupado por eleitos vindos de outras regiões com menor interesse pelos Açores. Talvez então o Açoriano que hoje se vangloria pelo desprezo quer dá à política descubra os efeitos nefastos de tal atitude, mas já será tarde, pois os Açores terão perdido por falta de comparência nos momentos próprios.
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