Meu artigo de hoje no diário da Horta “Incentivo”
CARA E COROA
Tal como as moedas têm dois lados, cara ou coroa (as notas também e embora o euro tenha perdido as caras torna-o apenas mais impessoal como a política europeia), os acontecimentos sociais, as declarações políticas e opções estratégicas costumam ter igualmente uma parte exposta às claras de todos e outra escondida ou esquecida à maioria dos cidadãos, ou seja, têm um verso e um reverso.
No artigo anterior, eu ainda desconhecia a reestruturação do Mercado Municipal da Horta, agora pomposamente denominado Centro de Acolhimento Empresarial, mas logo de imediato fui visitá-lo em hora normal de funcionamento e fora de folguedos festivos.
Apesar da espera de anos por esta remodelação, de facto agora o Mercado Municipal está de cara lavada, mais bonito, mais funcional, mais protegido da chuva e seguramente mais acolhedor. Apesar da novidade, quando lá fui, em hora normal de comércio, o número de clientes era escasso, aliás próximo do da última vez que lá entrara antes das obras e isto preocupou-me. Este pode ser o reverso da intervenção, este espaço só fica vivo se servir os seus objetivos e se os Faialenses aderirem a dinamizá-lo, não apenas como um espaço de festas com dinheiros públicos, mas sim como um polo dinamizador da nossa economia local. Está nas mãos dos Faialenses tirar o máximo proveito do Mercado Municipal da Horta, para que a cara e a coroa deste investimento sejam duas faces positivas desta renovação.
Há poucos anos em discussão na Assembleia Municipal sobre o mau serviço da Azores Airlines ao Faial lamentei que o grupo SATA, em vez de investir em aviões que pudessem operar no aeroporto da Horta, optasse por equipamentos enormes para destinos longínquos que não aterravam nesta ilha, era o reverso das opções de gestão o que eu lamentava. Fui contrariado pela bancada rosa que só via apostas de crescimento da empresa assumiu o verso, justificar a estratégia e esperar para ver.
Passado poucos anos, os prejuízos da Azores Airlines vêm num crescendo que ameaçam todo o grupo, este nem consegue assegurar o número de viagens necessário ao Faial por falta de aviões adequados à Horta, uma rota que já tem voos esgotados até para o ainda longínquo verão. Enquanto isto, o enorme avião do cachalote, batizado com pompa e circunstância, está parado por não ser rentável onde o utilizar. Infelizmente a minha bancada tinha razão neste reverso, mas os defensores da estratégia suicida do Governo e da SATA com os seus versos de então, hoje esquecem o seu erro.
Passos Coelho entrou para o Governo num Portugal em bancarrota com a mão estendida ao estrangeiro. Apesar de na minha opinião ele ter cometido vários erros na estratégia de consolidar as contas públicas, ele dizia: “Não há dinheiro”, mas nenhum opositor aceitava o argumento. Embora ele tenha ganho as eleições, os que diziam que os gastos públicos dinamizavam a economia, que o défice não podia ser um obstáculo ao investimento e ao aumento salarial, estes tiveram a maioria no parlamento e apoiaram legalmente a governação de António Costa. O princípio foi de reversões de cortes e o crescimento da economia acelerou. O otimismo semeado permitiu acreditar no milagre das rosas, mas bastou uma conjuntura atabalhoada também de maioria no mesmo parlamento exigir a contagem do tempo de serviços dos professores e eis que este Governo conclui “Não há dinheiro”. No fim não houve o milagre das rosas, os cortes escondiam-se em carreiras congeladas, o desinvestimento disfarçou-se em cativações e a meta do défice continuou a ser o cerne da estratégia de Centeno. Como já eu dissera neste jornal, a Governação de Passos e a de Costa no fundo eram iguais, duas faces da mesma moeda da austeridade, embora agora com versos mais simpáticos.