O meu artigo de ontem publicado no diário Incentivo:
DAS VITÓRIAS DE PORTUGAL À DO EGOÍSMO
A seleção de Portugal, embora sem ainda ter jogado de forma a destacar-se convincentemente bem e sem nunca ter vencido ou perdido no período dos 90 minutos regulamentares de jogo, tem sobrevivido e já chegou aos quartos-de-final do Euro2016, para alegria dos Portugueses depois de muita ansiedade e receio em que a equipa alimentou no coração dos Lusitanos.
Na partida com a Islândia a nossa seleção dominou em campo e embora aquele país insular também se tenha esforçado teve sorte e lá veio o empate, com a Áustria foi um jogo sem história e glória para ninguém e um empate perante um adversário mais fraco. O confronto com a Hungria foi impróprio para cardíacos, com golos disputados taco a taco a justificarem que os dois países irem à fase seguinte em novo empate. A recente disputa com a Croácia foi quase ver o filme da primeira partida ao contrário e acabou empatado aos 90 minutos, só que depois a sorte visitou-nos para mal dos axadrezados que foram eliminados por atacarem em permanência quase sem rematarem.
Como tudo está bom enquanto vai acabando em bem, por agora parecemos os maiores sem ainda termos brilhado, mas futebol também é isto, e para já a nossa seleção ainda alimenta no coração de todos Portugueses amantes desta modalidade a esperança de uma grande prestação de Portugal e eu continuo a torcer para atingirmos o patamar mais alto da Europa que sempre nos fugiu.
Já a Europa está a passar por um período sombrio com a vitória do Brexit no Reino Unido que leva a que este Estado deva abandonar a União Europeia (EU) por opção ligeiramente maioritária dos seus Povos. Todavia, importa lembrar que os motivos da opção de saída dos britânicos são, sobretudo, egoístas, como: (1) não se sujeitarem a regras comunitárias para acolher imigrantes de outros países da mesma União, que não só que lhes prestam serviços básicos, como ainda muitas vezes são os próprios cidadãos de origem a recusarem fazer por um orgulho nacionalista presunçoso e doentio; (2) não acolher refugiados vítimas de guerras onde os próprios britânicos foram ou são parte beligerante, recordo o papel ativo do País nas invasões e conflitos no médio oriente; (3) não querer ser um contribuinte líquido do orçamento comunitário, apesar de serem um dos Estados de maior riqueza per capita da UE recusam ser solidários por imposição com os membros mais pobres; (4) não se limitarem a regras comuns dentro do mercado aberto da EU, pretenderem um tratamento de exceção com regalias próprias contra uma cooperação ativa na Europa.
Todavia, também é verdade que nos aspetos económicos certos Estados mais pobres da EU têm culpas no alimentar destes egoísmos. Como explicar a um Britânico que após 31 anos de integração europeia o Reino Unido continue ainda a pagar défices e dívidas de Portugal e este País, como outros, depois de tanto dinheiro vindo dos mais ricos continue pobre e incapaz de desenvolver a sua economia? A falta de crescimento nos membros fracos leva à saturação dos mais fortes. Até se olharmos para os Açores vemos quantos já se sentem revoltados que após 40 anos de ajudas a algumas bolsas de pobreza na Região estas continuem pobres e alvo de programas de solidariedade à custa dos impostos de muitos que sentem dificuldades são forçados a pagar sem ver os beneficiários desses sacrifícios impostos pelos Governos ao longo de tantos anos saírem da miséria.
A verdade é que levar anos a pedir solidariedade também cansa a quem a paga, pior se quem pede não demonstra sinal de vencer as suas dificuldades ou vontade de se libertar do que para os que contribuem são vícios do sistema. Não tenho dúvidas que apesar dos muitos egoísmos dos mais ricos, nada é pior para a solidariedade do que estes deixarem de acreditar que esta pode ajudar.
Infelizmente, temos visto que na Europa do norte e rica existe um crescimento da saturação dos pedidos de solidariedade. Vimos protestos na Finlândia, na Holanda, no Luxemburgo e na Alemanha face os continuados apelos dos Estados do sul em crise e o Brexit mais não é que uma manifestação de egoísmo de um povo já historicamente famoso por ser nacionalista, orgulhoso e pouco prestável a ser solidário por imposição de terceiros, mas o pior é que com isto Portugal e outros Estados verão quão mais difícil os seus apelos de solidariedade serão atendidos devido à saturação dos mais ricos de onde vieram os subsídios que não serviram para tornar a nossa economia forte e capaz de competir em pé de igualdade na União Europeia.
Não sei se o Brexit será o princípio do fim da União Europeia, mas suspeito, sejam quais forem as mudanças dele resultante, que Portugal e os Açores terão cada vez mais dificuldades em viver à sombra de subsídios à nossa economia num modelo que nos tem mantido numa pobreza relativa e doentiamente dependente dos fundos comunitários que serviu para preservar políticos no poder ou enriquecer alguns particulares, em vez de tornar o País e o Arquipélago competitivo e rico.
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