Meu artigo de hoje no diário Incentivo:
BALANÇO DE 2014: UM ANO DIFERENTE PARA PORTUGAL
Apesar dos primeiros meses de 2014 terem sido de plena continuidade com os últimos anos, a partir de maio último ocorreram em Portugal vários acontecimentos de elevada significância que tornaram o ano que agora finda num período de rutura com o passado, embora seja ainda difícil diagnosticar como terminarão e quais os seus reais efeitos no futuro do nosso País.
O primeiro acontecimento deu-se na primavera, como para florir a esperança, foi a saída em maio de Portugal da troika e sem nenhum programa cautelar, dando-se assim por concluído o memorando de ajuda financeira externa para enfrentar a quase bancarrota de 2011.
Assim, na sequência da austeridade exigida no memorando assinado pelo anterior governo; depois do descontentamento gerado nos portugueses com o presente executivo pelo cumprimento do acordado antes devido aos seus custos sociais no emprego, rendimentos de trabalho e pensões e no reformismo da administração pública; depois de a oposição ter atirado as culpas apenas para os atuais governantes; depois de quase se ter convencido todos os Portugueses de que haveria um segundo resgate; depois do esforço em descredibilizar qualquer resultado económico positivo nacional mais recente, desde o aumento das exportações à redução dos juros da dívida e diminuição do desemprego; depois de já se dizer que talvez não fosse necessário outro resgate mas que não escaparíamos ao programa cautelar… eis que Portugal viu sair a troika sem outra exigência nova e a credibilidade financeira do País ao nível internacional continua a melhorar.
Não tenho complexo em dizer que Passos Coelho não correspondeu às minhas esperanças iniciais, mas, apesar dos ódios semeados contra ele (sobretudo por políticos mais interessados em tomar o poder do que em cooperar na busca de soluções para o País), assumo que a atual governação também não foi tão má como nos querem fazer crer. Há frutos positivos dos sacrifícios que começam a tornar-se consistentes, exceto àqueles para quem o preconceito contra o Primeiro-ministro obscurece a razão, a sinceridade do discurso e impede de reconhecer o feito bem.
Não nego os custos sociais denunciados, que são mais graves do que o Governo gosta de dizer, mas também é verdade que houve mais gente contra os remédios e a acusar o médico que tratou a crise, do que políticos a esforçar-se por ajudar a tratar Portugal com receitas válidas e alguns optaram mesmo por esperar para quando o País tivesse hipóteses de cura para começar a lutar pelo poder.
O segundo acontecimento foi no verão, as falcatruas secaram o Banco Espírito Santo e levaram-no à falência. Mas, ao contrário do passado onde a fatura era cobrada ao povo, como no caso BPN, agora procurou-se um modelo onde os que viveram à sombra da alta finança fossem prejudicados. Também houve vítimas inocentes e há riscos de alguns custos passarem à população, diferente do que o Governo no início assumia, mas depois das consequências na dívida pública no modo de solução do pequeno banco BPN foram tão grandes, agora com BES, um dos maiores bancos do País, se os efeitos forem bem menores, há que reconhecer o esforço para se ser mais justo que o habitual em Portugal, onde se salvavam os mais ricos.
Por no outono vimos que também as grandes árvores podem perder as folhas, pois pela primeira vez um ex-Primeiro-ministro foi detido num processo judicial. Não sei se é culpado do que o Ministério Público suspeita, sei que é uma mudança de atitude da Justiça em Portugal e demonstrou que todos, incluindo os que foram ou são poderosos neste País, podem um dia vir a ser acusados e isto tem reflexos nos que estão ou vão para o poder, pois já perceberam que deixaram de ficar isentos e poderão ter que vir a se defender em Tribunal dos seus atos que praticaram contra a Lei.
Há hoje quem se mostre indignado por a Justiça ter tido tal coragem, não era habitual isto. A norma era a impunidade dos grandes banqueiros e políticos. Há os que agora quase impõem a presunção de inocência dos seus companheiros de poder, mas sempre prontos a culpar os seus adversários. Espero que 2014 tenha acabado com o desaforo dos grandes serem intocáveis pela Justiça.
Votos que 2015 seja melhor para todos os leitores e que Portugal não deixe de trilhar uma via mais justa para o seu desenvolvimento socioeconómico.
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