Meu artigo de hoje no diário Incentivo:
O QUE ERAM OS ANOS DE AUTÁRQUICAS NO FAIAL E O QUE É AGORA
Lembro-me bem do desfile de inaugurações que ocorria em ano de eleições autárquicas no Faial antigamente. Presidentes de Junta de Freguesia e da Câmara Municipal andavam então numa corrida de corta-fitas e de primeiras-pedras das obras resultantes do mandato que estavam a terminar. Era a forma de apresentar os frutos do seu trabalho aos Faialenses antes da ida às urnas.
Lembro-me também do desagrado das oposições com tanta inauguração e primeiras-pedras antes das eleições, pois os deixava sem discurso e assim tinham de se esforçar por apresentar ideias diferentes no seu programa em detrimento de apontar o que não fora feito.
Lembro-me, quando fui candidato à minha freguesia, me terem aconselhado que no meu programa eleitoral deveria constar o que pretendia, podia fazer e tivesse condições para arrancar ou concluir até ao final do mandato, pois os projetos repetidos para as autárquicas seguintes e não iniciados formavam a lista das promessas não cumpridas.
Era assim noutros tempos, outros modos de fazer política e onde o Faial ficava a ganhar com a exposição do trabalho realmente feito no terreno e à mostra dos Faialenses.
Depois isto começou lentamente a mudar, primeiro foi o discurso “the small is beautiful” ou “o pequeno é bonito”, para justificar a execução ou aceitação de projetos menores do que os anteriormente prometidos. Foi o início do tempo em que no desenvolvimento socioeconómico e infraestrutural o Faial começou a ficar para trás face a outras ilhas.
Após o sismo de 1998, houve autarcas a justificar o adiamento de projetos prometidos a esta terra, pois não queriam a ilha transformada em estaleiro e iniciou-se a fase onde as promessas para um mandato passaram a ter desculpas para não ser cumpridas e começou-se impunemente a repetir as mesmas propostas de 4 em 4 anos, atrasando-as mesmo décadas com desculpas esfarrapadas.
Esta degradação foi progressiva e o Faial foi ficando sempre para trás face a outras ilhas onde esta estratégia não pegava. Assim, não admira que no corrente ano de 2017 se veja a Câmara a apresentar novas versões de projetos antes prometidos, parecendo até novas promessas para o próximo mandato, mas que já se arrastam há anos e já foram comunicadas em anteriores autárquicas, repetindo a velha estratégia: dar a ideia de que é desta que vai ser. Só que a experiência mostra que no passado tal não levou a nada. É apenas o disfarce para a lista das promessas não cumpridas conforme me ensinaram antigamente e só se deixa enganar de novo quem quer.
Já perdi a conta às ideias e às versões dos projetos para a frente mar da Horta, mas esta nunca arrancou. Já não sei quantas vezes se disse o que se vai fazer para o Mercado Municipal, mas após tantos anos a obra nunca começou. Já mudou a quantidade e os locais de parques de estacionamento para o centro da cidade, umas vezes é a céu aberto, outras em silos de vários andares, só não surgiram os parques que de tempos a tempos se prometeram. Eis alguns de tantos exemplos.
Não me esqueço da prosápia com que nos tempos últimos se anunciou a primeira intervenção do saneamento básico da Horta, mas recordo-me bem quando, há mais de uma década atrás, na Assembleia Municipal a bancada a oposição propunha o faseamento deste trabalho para acelerar o seu arranque e o executivo avançar ao ritmo das suas possibilidades sem comprometer as finanças da Câmara. A sugestão foi criticada por não acreditarmos na capacidade anunciada do município, mas após tantos anos seguiram mesmo o velho conselho que então se deu, só não houve agora a humildade de assumir o atraso, nem a autoria da estratégia de fasear este investimento.
Este ano, reconheço, inauguraram bancos no jardim da República substituindo-os por outros iguais aos de antigamente, algo que não estava prometido nas últimas autárquicas, mas nem quero imaginar no que se diria há 20 ou 30 anos se um corta-fitas fosse para fazer uma correção de uma asneira de mau gosto e apenas voltar a repor algo igual ao que de bonito existia antes.
Há uma área que em todas as autárquicas vinha ao de cima: a rede de abastecimento de água; mas parece que no último mandato fizeram-se de facto investimentos que há muito foram sucessivamente adiados. Talvez fiquem corrigidas as disfunções do passado neste setor, mas com tantos outros adiamentos e tantas mais obras que não saíram do papel, virando apenas a projetos alterados reanunciados, não admira que o município tenha poupado dinheiro e diminuído as dívidas. Boa gestão era executarem-se as obras prometidas e ainda assim reduzir o endividamento.
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