O meu artigo de hoje de opinião quinzenal no diário da Horta “Incentivo”:
DO FIM DA EMERGÊNCIA À ABERTURA EXTERNA DO FAIAL
O período de emergência começou no Dia do Pai e, curiosamente, terminou à chegada do Dia da Mãe, vários objetivos foram alcançados: baixou-se o pico da pandemia, não houve rotura dos serviços de saúde e não se atingiu o descalabro de mortos como nalguns países. Mas não se teve números tão bons como em muitos outros países de que não se fala, nem se protegeu bem muitos dos nossos lares de idosos. O contágio do Nordeste é a situação que sujou o sucesso dos Açores.
No Faial estamos agora a viver o melhor período desde a declaração da pandemia pela OMS. Apenas tivemos situações importadas sem nenhuma cadeia de contaminação local, o último caso já ocorreu há mais de 28 dias e continuamos com as nossas ligações ao exterior fechadas. Assim, até à abertura do porto e do aeroporto a zonas onde existe o vírus em circulação, a nossa ilha parece protegida do aparecimento de novos doentes.
Para já há muitos heróis para este sucesso no Faial: quem tinha poder e teve coragem de impor medidas duras de contenção deste vírus contra argumentos de certas vozes; os elementos das oposições que se comportaram com responsabilidade quando lhes apetecia questionar ações dúbias para não enfraquecer a luta; os muitos Faialenses que acataram com dificuldade a regra de ficar em casa, uns a teletrabalhar com crianças e em condições não ideais mas a cumprir as suas funções e a evitar transmissões locais; o pessoal de saúde e de serviços essenciais que assumiram a tarefa de se preparar para o pior e manter as condições de vida na ilha que como humanos não estavam imunes nem à doença nem ao medo; e o grupo pouco lembrado dos próprios doentes Covid-19 que vivem nesta ilha e se comportaram exemplarmente, de tal modo que não contaminaram nem uma pessoa nesta terra além de si pois cumpriram a higiene e o isolamento rigidamente. Noutros locais houve gente que se sabia estar infetada e não cumpriu tão bem, até saiu e pôs outros em risco.
Apesar deste período de acalmia que o Faial desfruta, mais dia menos dia a ilha vai ter de se abrir novamente ao exterior e, mesmo com fases iniciais de quarentena, o perigo de futuras contaminações vai voltar e não vale a pena pensar que esta terra pode viver num gueto a esperar até ao dia, que não se sabe quando, a ciência descubra um tratamento e vacina eficaz. A humanidade é uma entidade social e nós também fazemos parte desta sociedade.
Alguns já foram intensamente prejudicados nos seus rendimentos, mas a acalmia que vivemos na ilha só foi possível porque houve portas e atividades económicas fechadas e se não tivesse sido assim estaríamos agora a chorar os nossos mortos que nos pesariam na consciência por não termos feito mais. Mas, não se pense que com ligações ao exterior o turismo, onde os Açores investiu tanto em detrimento de outros setores, se regulariza rápido. Não! Muitos potenciais turistas têm medo de viajar, de passar por aeroportos e instalar-se em hotéis com gente que eles não sabem de onde virá e nem todas as pessoas estão disponíveis a acolher de braços abertos gente que vem de fora que pode trazer escondido o SARS-Cov-2. Eis uma sequela dura desta crise para tratar com tempo.
Haverá muitas coisas que nós Faialenses teremos de agir face aos menores rendimentos de vizinhos e amigos a quem temos de dar a mão; há o facto de nem todos os idosos viverem isolados em lar, uns vivem na sua própria casa e outros partilham-na com a família que trabalha ou vai à escola e temos de protegê-los a todos. Esta ilha sempre dependeu do seu porto a que, nos tempos mais recentes, se juntou o aeroporto e temos sido reivindicativos de mais ligações diretas ao exterior e não ao contrário. Na fase que aí vem, os Faialenses terão de continuar a ser heróis e tudo fazer para se ultrapassar estes problemas sem deitar a perder tudo o que se conseguiu até agora.