Meu artigo de hoje publicado no diário do Faial, Incentivo
COMO SERÁ A VIDA PÓS COVID-19?
Não vou escrever sobre a doença Covid-19, nem fazer recomendações e muito menos perspetivar a evolução desta pandemia nos Açores, em Portugal ou no Mundo: para isso, ouçam os médicos, acatem as orientações da Direção Regional de Saúde e sigam as notícias.
Em poucos dias o Mundo mudou e não será mais o mesmo, só não sabemos ainda como será. Quem seguia as inovações e alertas das ciências sabia que um dia uma pandemia, mais ou menos agressiva, surgiria, mas viam-se os líderes dos Povos a adiar a prevenção de riscos com aquele discurso habitual de que já há muito tempo se diz que vai acontecer e nunca aconteceu e preferiam investir em outras coisas mais populares que a curto-prazo rendiam votos. Mas já houve muitas pandemias na história da humanidade e algumas bem piores, infelizmente esta aconteceu nos nossos dias.
Num repente, muitas coisas que se diziam ser inviáveis tornaram-se possíveis e, por vezes, funcionam até melhor como certos casos de teletrabalho em muitas profissões na área de serviços. Algumas profissões não valorizadas e mal pagas mostram-se essenciais ao funcionamento da sociedade e sem poder parar como: as equipas de higiene, limpeza e saúde. O desporto profissional, a paixão de muitos, alimentada quase em permanência pelas TV e jornais, silenciou-se e saiu das tensões sociais. Agora como será a vida após o tsunami Covid-19 é o que gostaria de saber.
O teletrabalho valorizou-se e se antes muitas famílias com crianças, doentes ou idosos não os podiam acompanhar por estarem obrigadas a extensas horas fora de casa no emprego, pelo que tinham de desembolsar volumosas verbas em sobrelotadas creches, lares, ATL e afins; agora, prova-se que o trabalho à distância é compatível a muitas profissões no setor público. Provou-se que harmonizar a proteção à família e o emprego não é só reduções de horários e despesas em serviços sociais. Estas valências não se tornarão obsoletas, existirá sempre a necessidade de funções presenciais no empregador e, mesmo quem teletrabalha terá momentos que requerem deslocação ao emprego. Mas podemos aumentar a produtividade e poupar no orçamento de muitas famílias com o teletrabalho, libertando muitos espaços em lares e creches e resolver o problema de muita gente empregada que não encontrava lugar para os dependentes a seu cargo. Esta evidência vai ser aproveitada por governantes e empresários? Não sabemos.
Os problemas de engarrafamentos e da poluição são aliviáveis com a implementação mais geral do teletrabalho, uma alternativa a se dificultar acessos aos centros das cidades a quem tem mesmo de lá trabalhar, fazer compras ou lazer. Poupar-se-ia em estruturas de estacionamento de grandes dimensões que custam dinheiro ao erário público e melhoraria a qualidade do ar e de vida.
Mas no pós-pandemia muito poderá ser negativo além da dor e das mortes e pior será quanto mais intensa, maior número de vagas da doença e tempo esta durar. O teletrabalho deve afetar o pequeno comércio: como almoços na restauração, e talvez a confiança de comprar na internet cresça, o que gerará desemprego num setor com muita gente jovem, embora os serviços de levar a casa comida e outras compras possam aumentar e compensar parte deste problema. Mas não sabemos se o medo de viajar ficará. Pior se houver outras ondas pandémicas e a economia nos Açores e Portugal muito cresceu à sombra do Turismo, setor que já era criticado por muitos pelos seus incómodos, mas este ao atrofiar-se despedirá a seguir muitos jovens e há que pagar muitos investimentos em estruturas hoteleiras e turismo de habitação e o risco de falências e fecho não se pode evitar se os turistas não vierem. Assim, com a economia em queda e o desemprego a crescer não sei se as linhas de apoio social às pequenas e médias empresas serão suficientes para evitar outro tipo de crise.
Se houver mudanças económicas muito fortes, o efeito bola de neve pode levar a instabilidades políticas e sociais imprevisíveis, mas uma coisa já se tornou claro aos olhos de todos: este Mundo assenta em muitas fragilidades e basta uma catástrofe inesperada para tudo mudar na Terra. Em todas as crises há oportunidades a aproveitar e dificuldades a vencer e esta não será diferente. Votos para que tudo se recomponha e os Açores, Portugal e o Mundo venham a ficar melhores.
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