O meu artigo de ontem no diário Incentivo:
O CENTRALISMO É CENTRALISMO, TANTO NACIONAL COMO REGIONAL
Independentemente de se gostar da escolha de Mota Amaral ou não ou de ser compreensível o porquê de alguém, após se reconhecer um bom desempenho como deputado no parlamento europeu em nome dos Açores, ter de ser substituída no termo do primeiro mandato (e já não é a primeira vez), não é uma mera questão de presunção ou de orgulho pessoal a exigência de uma posição elegível para aquele aceitar integrar a lista única nacional em representação do PSD-Açores.
A reivindicação de um lugar elegível para Mota Amaral (neste caso concreto) é, sobretudo, uma questão de se exigir o reconhecimento de que esta pessoa não vai para esse lugar apenas em nome próprio ou só pelos seus méritos individuais, vai como representante de uma estrutura política com um estatuto específico de uma Região Autónoma e Ultraperiférica, não se confundindo com um mero departamento da organização interna de um partido como uma distrital ou concelhia.
Assim, a reivindicação de um lugar, perspetivado à priori elegível, tem a ver essencialmente com o reconhecimento do estatuto próprio dos Açores no todo nacional. O Arquipélago é uma região em descontinuidade geográfica e distante do território original do País. Esta situação projeta Portugal para uma realidade marítima muito além dos limites da plataforma continental da Europa e dá ao Estado uma importância geopolítica, económica e estratégica global muito superior à da sua real dimensão em termos de território emerso e população residente.
Foi o reconhecimento destas especificidades no todo nacional que possibilitaram que num País que nunca foi capaz de levar a cabo a regionalização no seu território continental, desde o início da democracia fosse viável criar um estatuto autónomo para os Açores, com a possibilidade destes legislarem e gerirem o seu território nos assuntos de interesse regional (mesmo que nem sempre tenha sido claro e consensual o significado deste interesse regional). Assim, a reivindicação de uma posição considerada elegível do representante dos Açores numa na lista nacional ultrapassa em muito o aspeto individual e entra na defesa do reconhecimento do estatuto específico e da importância desta Região no contexto de Portugal e não é uma questão de orgulho pessoal.
Se fosse uma mera questão demográfica, os Açores não ultrapassam os 4% da população nacional e a Região teria de se cingir a uma representatividade conforme com essa dimensão. Mas não é. Só que esta especificidade esbarra com o centralismo de muitos e estes têm dificuldade em reconhecer aspetos que não giram em torno do seu centro e neste caso não é apenas Lisboa, é o todo-Portugal- Continental. Foi o reconhecer a particularidade das ilhas menores no contexto arquipelágico que lhes deu mais peso eleitoral que a sua representatividade populacional na fundação da autonomia e foi o centralismo regional que desvirtuou este reconhecimento.
Infelizmente, neste momento o PSD-Açores está a sentir, como força política desta Região, o que sentem também ilhas mais pequenas perante o esmagamento centralista das maiores do Arquipélago, que usam a sua dimensão populacional e económica para centralizar em si tudo o que interessa enquanto esmagam as terras mais fracas e lhes reduziram força eleitoral para se defenderem. O Centralismo que este partido político regional está agora a lutar dentro do nacional é o mesmo centralismo que Faialenses e outros Açorianos de ilhas pequenas combatem quando denunciam que não estão a ser devidamente defendidos os seus interesses e importância no contexto do Arquipélago. O mesmo centralismo que também mina a Autonomia dentro dos Açores.
Deixe uma Resposta