VERÃO COM CIGARRAS E FORMIGAS
A Semana do Mar 2018 já se foi, mas o verão continua. Esta estação, amada pela cigarra da fábula, convida à descontração das férias com uns mergulhos no mar durante o dia (e não há mar maravilhoso como o dos Açores!) e uns convívios regados em esplanadas à noite (e no Faial, com a bela vista para o Pico descoberto à luz da lua, ainda melhor!); mas o mundo à nossa volta continua a girar mesmo sem querermos pensar no próximo inverno como a formiga. Mas a vida tende a ser assim: aproveitar o dia de verão que no inverno logo se vê. Aliás, todos elogiam a labuta da formiga, mas gostar… gostam é do gozo da cigarra e as crónicas no verão devem ser levezinhas.
Sem dúvida que o mais marcante da última Semana do Mar foi a sua vertente ambiental que já se vislumbrava dos últimos anos, mas que nesta edição veio em força na estratégia de reduzir a produção de plástico como resíduo da festa. Foi interessante ver alguns arrufos pela imposição da caução dos copos e a necessidade de deslocação para o reembolso. É a preferência pelo comodismo da cigarra face ao pedido de um pequeno esforço bem menor que o labor da formiga no verão.
Gostei de ver a surpresa de alguns por eu estar a reutilizar a mesma caneca de uma edição passada, é que mais do que ter feito da Terra e do Ambiente a minha profissão, eu acredito que está nas nossas mãos ter gestos em prol da sustentabilidade e limpeza do Planeta que é a nossa casa.
No resto, esta Semana do Mar não se distinguiu das outras: o mesmo estilo de programa cultural, o mesmo afastamento da população do festival náutico que está na base da festa e o mesmo contraste entre a grandeza dos desfiles de verão que se fazem noutras terras e ilhas de Portugal e aquilo que assisti na RTP-Açores como cartaz deste festejo na Horta.
No ano, a crer no discurso do Presidente da Câmara, ao menos as condições do local onde o programa cultural se faz as coisas vão mudar ou condicionadas por obras da frente mar a iniciar ou mudanças no espaço se concluídas, esperemos para ver o evoluir destas nas próximas estações.
Apesar de eu ter uma vertente de formiga ao olhar o futuro e ter as minhas férias principais com alguma frequência no outono e inverno, não deixo de ter uma atração pelo gozo estival da cigarra. Tirei uns dias no verão e este ano até juntei uma escapadinha a Lisboa.
Não haja dúvida que a capital voltou-se de armas e bagagem para o turismo estrangeiro, fui mais vezes abordado na baixa de Lisboa em inglês, castelhano e francês do que no Português da cidade, o que confesso me desagrada. Num restaurante, após pedir uma mesa na esplanada (este tique meu de cigarra!) lá me entregaram a carta de pratos na língua de Molière e não era porque fosse mais fino ter um menu em lugar de uma ementa, foi apenas este vício lusitano de nos curvarmos perante os estrangeiros que até aos compatriotas os servimos noutra língua.
Já sei que passada a fuga dos turistas da Turquia e do norte de África devido ao terrorismo que os trouxe a visitar Portugal e colocou Lisboa na moda, as promoções daqueles países voltaram a atrair as pessoas para lá e logo por cá o número de dormidas começou a cair. Infelizmente decresceu mais nos Açores e a minha parte de formiga começou a pensar como será o futuro depois desta onde de turistas mais fruto de circunstâncias alheias do que do labor dos governos locais que proclamam exclusividade dos louros deste sucesso. Continuação de bom verão a todos!
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