Meu artigo de ontem no Incentivo:
SEIS MESES DE COSTA E A GREVES DOS ESTIVADORES
- Os políticos, tal como os jornalistas, têm horror ao silêncio, aos períodos de reflexão ou de espera para se amadurecer a análise de uma situação, resolver um problema ou alcançar um resultado de uma estratégia.
Os políticos não conseguem controlar a ansiedade e esperar para emitir uma opinião balizada sobre os frutos de uma decisão: se são da oposição, sentem logo a obrigação de criticar e desfazer uma opção acabada de tomar; se são do lado do poder, apoiam imediatamente a decisão do governante a dizer que não havia alternativa melhor. Assim, as partes mantêm um conflito partidário em lugar de cooperar em prol do interesse público e do desenvolvimento socioeconómico da população.
Os jornalistas também não suportam esperar por um resultado final, insistem que o político fale sobre perspetivas para depois ter matéria para divulgar, mesmo que apenas alimente o confronto partidário e não sejam notícias amadurecidas, intrigas que enchem os meios de comunicação social de declarações inúteis que prendem o leitor, o ouvinte ou o telespetador.
O atual governo do PS, com o apoio da CDU e do BE, apenas está há seis meses no poder, mas desde a primeira hora não há resultado positivo que a esquerda não ostente a bandeira do sucesso da nova política e não há dado mau que a oposição não avise os Portugueses que o País vai descarrilar ao seguir a nova via. Tudo isto é acompanhado por um Presidente da República, que na sua vida foi jornalista e político, pelo que fala a dobrar sobre tudo o que é importante ou acessório e de comentador político virou a conselheiro e intermediário entre todos, atraindo a si simpatias mas sem favorecer de facto entendimentos entre as forças políticas em jogo, tal como diz desejar.
Seis meses de governação é um escassíssimo tempo para se tirar qualquer conclusão sobre o saldo final da estratégia que António Costa tem em curso. Basta só ver que sempre que alguma estatística má sai, imediatamente o Executivo e seus apoiantes responsabilizam os governantes do passado, lavando todas as suas culpas; mas se um dado é bom, logo o Primeiro-ministro chama a si todo o sucesso sem reconhecer nenhum louro do trabalho anterior. São assim sempre os períodos de transição entre governos de cores diferentes, até que se limpem as nuvens do desgaste dos que saíram do poder e a continuação das dificuldades da vida comecem a ensombrar-se as auroras de esperança colocadas na equipa que entrou.
Tenho de assumir que eu não sei ainda se Portugal vai desembocar numa nova crise económica ou não e, se sairmos, se haverá necessidade de mais ou menos sacrifícios que os atuais para saldar as dívidas que herdámos após anos a gastar o que não tínhamos e a vivermos como se a Europa fosse apenas uma mera benemérita da nossa economia: uns são totalmente otimistas, outros visceralmente pessimistas sobre o momento que atravessamos. Como não sei ainda se vamos por um bom ou mau caminho, espero com calma para perceber no que isto vai dar.
- Felizmente a greve dos estivadores do porto de Lisboa já chegou ao fim e nestes conflitos a razão raramente está apenas de um lado, mas esta questiúncula estava a prejudicar e muito todo o País e, dada à especificidade geográfica insular, mais ainda os Açores e a Madeira.
Todavia, esta greve também mostrou que, apesar do inovador quadro de apoio parlamentar do atual governo do PS, suportado pela primeira vez pelos partidos da extrema-esquerda, há coisas nestes que não mudam. Se estávamos habituados a que sempre que houvesse um conflito laboral estes partidos, que nunca seguraram qualquer governo, estivessem sempre de forma incondicional do lado do sindicato e contra o poder, desta vez também não foi diferente. Foi interessante ver o BE dizer em pleno Parlamento como o Primeiro-ministro tinha de resolver o conflito através de uma declaração toda colada ao sindicato e sem qualquer consideração com o facto da Ministra do Mar estar naquele momento a mediar negociações para o entendimento entre as duas partes em conflito pelo que se precisava de um Governo isento para viabilizar um acordo.
Igualmente vi eleitos pelos Açorianos da mesma força política que, mesmo perante os prejuízos que as populações do Arquipélago estavam a ter com esta greve, assumiram a mera propaganda dos sindicatos nesta luta. Assim, se uns ideologicamente se cegam com os argumentos do patronato, outros não conseguem defender o Povo que representam e privilegiam a luta de classes de um grupo particular em detrimento de uma População inteira.
É por exemplos deste que não consigo encontrar bom senso nas forças políticas que se afastam do centro ideológico entre a esquerda e a direita, aqui, apesar de muitos vícios que resultam dos compromissos entre partes próximas, ainda é possível equilíbrios entre os aspetos positivos e negativos que vislumbro em ambos os lados políticos sem a cegueira das posições extremadas.
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