A primeira grande batalha de António Costa como Primeiro-ministro termina hoje com a concretização da aprovação final do Orçamento de Estado de 2016, para o seu primeiro ano de governação, e deve saldar-se numa vitória pessoal e da união das esquerdas.
António Costa ganhou este confronto inicial que envolveu braços de ferro com Bruxelas, os mercados e nas divergências com os partidos que apoiam o seu governo, mas ele sabe que ainda não ganhou a guerra da governação.
Apesar de António Costa se ter mostrado ágil a negociar politicamente, o atual Primeiro-ministro sabe que agora vem uma prova de fundo: a execução do documento a aprovar hoje face às perspetivas económicas e financeiras que demonstrarão, ou não, a sustentabilidade das premissas em que assenta o Orçamento de Estado de 2016. Em caso de desvio das contas e aumento do défice público, o líder do Governo entra no campo das reações dos mercados, o domínio que ele não consegue controlar com a sua capacidade negocial.
Até ao momento António Costa sabia que as esquerdas estavam reféns do compromisso para se tornarem credíveis perante o eleitorado: este primeiro orçamento teria de passar. Bruxelas também não podia deixar cair um executivo ainda com o benefício da dúvida sob o risco de ser ela própria considerada a causa de uma crise política que levasse a um desastre financeiro em Portugal. Por estes dois motivos o líder do governo sentiu condições para esticar todas as cordas e prosseguir com a sua estratégia. Pelo meio surgiu o problema da ajuda aos países acolhedores de refugiados, mas o PSD ficou atado na sua própria armadilha perante a agilidade de Costa e suspeito que sem o truque da alteração do artigo as esquerdas teriam até engolido um sapo se tal fosse fundamental para salvar o atual Governo.
Todavia, ao longo do ano a prova de resistência será outra, se as coisas correrem bem em termos de gestão do défice, António Costa, além de ter ganho esta batalha orçamental, ganhará uma guerra, mas se as contas correrem mal e os mercados se não tiverem outras distrações que desviem a atenção de Portugal, estes atacarão esta governação com o risco de a vitória inicial desembocar numa guerra financeira com um fim que pode até levar à derrota do líder do PS, se o suporte das esquerdas não as levar a volte-faces que protejam o atual governo a todo o custo.
É cedo para cantar vitória do lado das esquerdas, tal como é cedo para a direita, agora desunida, profetizar uma desgraça que seria o pior cenário para Portugal.