Meu artigo de hoje no diário Incentivo
PROPAGANDA SEM GOVERNAR
No passado fim-de-semana morreu Umberto Eco, um inteligentíssimo investigador universitário e escritor de vários romances que ficcionam a existência na nossa sociedade de grupos que se esmeram em controlar a informação e em inventar ou em transformar factos de modo a se tornarem em assuntos importantes na comunicação social e levar a sociedade a acreditar em mentiras e a criar condições para se promoverem decisões políticas desumanas, injustas e prejudiciais às próprias populações mas com o apoio destas, devido a esta arte intencional de enganar as pessoas.
Algumas das obras de Eco baseiam-se parcialmente em conspirações reais, nomeadamente a que levou ao genocídio dos judeus que semeou um ódio a este povo através de dados manipulados e mentiras devidamente tratadas e publicitadas em livros e comunicação social.
Hoje em dia, a massificação da internet e da televisão permite uma eficácia nunca antes alcançada à arte de enganar promovida por grupos sem escrúpulos cheios de ambições políticas, ganância financeira e fanatismos ideológicos ou religiosos que podem convencer com facilidade frações significativas de populações de Países e continentes, tornando-se cada vez mais difícil distinguir a verdade da mentira e ainda impedir que se faça o balanço dos benefícios de curto prazo face aos prejuízos num futuro mais distante.
A explosão da crise financeira em Portugal, fruto da corrupção política e económica nacional que o sistema “democrático” sustentou nas últimas décadas e nos abeirou da bancarrota e causou o empobrecimento de frações significativas de população inocente, aliada ao receio dos governantes implementarem medidas justas que provoquem insatisfação de clientelas poderosas que amarraram os partidos e a custos eleitorais vindo de grupos com privilégios adquiridos, criaram as condições para se aprimorar a arte de enganar os Portugueses. Assim, nas internet e nos comentários dos órgãos de comunicação social não faltam soldados arregimentados que nos inundam com notícias e contrainformação que só servem os interesses de quem nos governa ou nos quer governar e camuflam o vazio de soluções para a saída da crise em que o País se meteu ou de ações que garantam o crescimento económico e social sustentado de Portugal.
Existem truques fáceis de desmontar: anuncia-se um curso técnico como se fosse uma licenciatura, fala-se de um projeto que em seguida vai para a gaveta como se já fosse uma obra a arrancar, colocam-se desempregados em programas de ocupacionais, etc. Mas outras situações são de grande mestria e envolvem uma legião de divulgadores da mensagem que são difíceis de desmontar.
Passos Coelho, concorde-se ou não com ele, ainda governou Portugal até ao final de 2014, depois foi a paralisia total de decisões coerentes e estratégicas com perspetivas de futuro, de janeiro a outubro de 2015 apenas contenção de decisões que prejudicassem eleições e ocultação, manipulação ou empolamento de dados económicos para captar votos, acompanhada de tomada de opções à pressa na tentativa de tornar irreversível pretensões de certos grupos. Isto decorreu numa guerra constante com as oposições que quase só trabalhavam os mesmos dados para daí concluírem precisamente o contrário.
Desde novembro, já lá vão três meses, Costa com o apoio parlamentar à sua esquerda quer dar a entender que está a governar, mas só desfez medidas do tempo em que ainda se governou em Portugal, concorde-se ou não com estas, contudo o atual Primeiro-ministro não tomou nenhuma, mesmo nenhuma decisão de fundo desde que chegou ao governo.
Entretanto assistimos a um período de inundação de informação e contrainformação do Orçamento de Estado para 2016, desde a versão inicial, passando pela da imposição da União Europeia, depois pela errata a corrigir os seus erros, seguido de outra errata a corrigir os erros depois de correção dos anteriores e já não sei qual a versão em que estamos, mas vimos 16 ministros, como se não tivessem problemas graves em mãos por resolver, a andar pelas cidades de Portugal a explicar o orçamento que nunca era igual no dia seguinte, situação só possível porque não se está a governar, mas apenas a manipular informação.
Na realidade não sei como será o Orçamento de Estado de 2016, sei apenas que todos os dias vemos um Primeiro-ministro a dispensar imenso tempo em propaganda com um discurso onde ataca todos os que defendem algo diferente sem Costa nunca ter atingido a versão final do seu documento estratégico que vai sendo sempre modificado enquanto ele repete os mesmos argumentos desde o início, até salvaguarda que gostava mais da versão inicial, aquela que tinha todos os erros que entretanto se vão corrigindo na aritmética ou na compatibilidade com os compromissos europeus.
Agora começar a governar é que ainda António Costa não começou, só propaganda do que quer que nós pensemos que ele está a fazer, uma manipulação do género que Eco denunciava nas classes do poder. Quando começará a governar? Isso eu ainda não sei. Só espero que isto acabe bem!
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