Não costumo pronunciar-me em público sobre grandes estratégias políticas que o PSD-Açores deve seguir, tenho acessos aos órgãos próprios deste no Faial para aí dizer o que penso se o desejar fazer. Por aqui limito-me mais a comentários de decisões concretas de governantes do que ao rumo desta força política e não é segredo que nela milito.
Mas a divulgação ontem de um livro do grupo consultivo de independentes desta estrutura regional, no qual está, seguramente entre outras coisas, a opinião de que o PSD-Açores deve voltar à sua matriz social-democrata, tendo em conta o nome do partido, tal só não parece um contrassenso por ser pública a realidade do liberalismo económico trilhada por este partido nos últimos anos a partir de Lisboa, ideia que se alastrou por toda as estruturas desta força política e inclusive atingiu as mais autónomas do poder central como o PSD-Açores.
Assumo que não rejeitei a experiência liberal proposta internamente por Passos Coelho, também assumo que sou de opinião que aproveitar certas medidas liberais no mundo atual globalizado, num País sem moeda própria como Portugal e super-endividado, é, em grande parte, uma necessidade e daí a minha abertura parcial a tais ideias. Agora excluir a matriz social-democrata do partido foi algo que nunca pensei experimentar e, embora esta não tenha desaparecido de todo, foi excessivamente enfraquecida e o PSD-Açores no seu discurso não tem sido imune a isso.
Uma das razões porque agora surge tal proposta à partida ilógica tem a ver com o facto que o PSD-Açores desde que viu o PSD em Lisboa chegar ao Governo na sequência da crise de 2011 não soube encontrar o equilíbrio entre defender medidas necessárias para Portugal sair da bancarrota, a sua raiz ideológica e, sobretudo, a sua razão de existir: ser uma força política regional onde o Arquipélago dos Açores é a sua razão de existir como estrutura autónoma.
Apesar da maioria dos Açorianos hoje parecer esquecida, na realidade o PSD-Açores foi quem de facto instituiu a Região Autónoma dos Açores, praticamente contra todas as restantes forças políticas no País e na Região, que tendencialmente eram contra a autonomia, defendendo umas uma centralização e outras uma independência.
Espero com este livro e com a situação que se está a passar no Continente a direção do PSD-Açores saiba encontrar-se com os genes da origem desta estrutura partidária: a defesa dos Açores em Social Democracia.
http://observador.pt/opiniao/porque-e-que-o-psd-ja-nao-e-social-democrata/
Já tinha lido o artigo proposto embora só depois de publicar este post. Primeiro, apesar dele ser historiador, discordo em absoluto da definição que ele dá para social-democracia em Portugal.
Quando falo de proximidade à social-democracia e, neste caso a aplicar na Região e no País, defendo um sistema que se preocupa em encontrar um equilíbrio entre a questão do crescimento económico num sistema competitivo e sem se impor ao privado ou a substituí-lo quando este o pode fazer bem e a questão social de modo a assegurar dignidade a quem por motivos que não lhe sejam imputáveis fica impossibilitado de obter rendimentos suficientes para isso e acesso à saúde, educação, cultura e outros bens da sociedade moderna e busque ainda medidas para que as forças de competição no mercado não esmaguem os mais fracos, quer por estes terem baixos rendimentos, quer por situações transitórias como o desemprego, quer por concorrência desleal do mais fortes ou pela decadência natural que resulta da velhice.
Não é um equilíbrio fácil, mas é o desafio que considero ser o cerne da social-democracia.
Também não tem de defender os oportunistas que se aproveitam da questão social em benefício pessoal e político, mas isso dá tema para muitos post e não cabe neste comentário.