“Disputar a democracia – a política para tempos de crise” de Pablo Eglesias, que acabei de ler para conhecer melhor as ideias desta ala de esquerda radical europeia, é essencialmente um livro de denúncia do sistema politicofinanceiro atual pelo modo como o autor e Secretário-Geral do partido “Podemos” espanhol vê e conta a história do seu País, da Europa e do Ocidente desde o final do século XIX e a exposição da sua estratégia para conquistar o poder aos homens da finança e dos partidos tradicionais designados por ele como “a casta”.
Apesar de concordar com o autor de que o poder da finança impôs-se internacionalmente e tornou a política numa fonte de injustiças, de desrespeito dos cidadãos como pessoas e dos próprios Estados como Países soberanos, não vejo esta situação como resultado de uma cabala global organizada pelas elites tradicionais do poder contra o povo iniciada no século XIX e que a mudança implica uma disputa em luta de classes que leve à derrota de uma minoria vergada sob o povo como se deduz da obra.
Para mim é claro que esta perspetiva é fruto das injustiças do sistema atual que está a esmagar muitos inocentes e urge mudar. Só que para Pablo Eglesias nesta luta de um lado todos são maus, muito maus mesmo, e do outro só há bons, não há erros, nem vícios, nem oportunistas, apenas vítimas inocentes. Mais chocado fico quando para demonstrar a sua visão por vezes se contradiga, reveja a história, dê como exemplos como se tudo esteja a ser um sucesso na América Latina ideologicamante próxima e branqueie Estaline selecionando exemplos como se este não fosse de facto um ditador.
Conclui que a proposta de Pablo Iglesias pode ser uma utopia e vende devido ao desumanismo e injustiça da política atual. Radica no marximo e estalinismo duro, é estrategicamente inteligente por vestir-se de forma atraente e fazer a guerra sem armas bélicas, mas é uma disputa ao sistema capitalista ocidental e por isto não vejo compatibilidade, que alguns dizem ser viável, que possa ser partilhada democraticamente numa mesma união monetária como a eurozona, pois, de facto, tem por fim a destruição do modelo e não a cooperação para o melhorar por dentro, só eles são democratas. Recomendo a leitura da obra a todos que vão mais no sonho do que no conhecimento das ideias do Podemos, do Syriza e talvez do BE e do Livre.
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