Chocou-me o comportamento oportunista de António Costa ao deixar queimar em lume brando António Seguro, quando o caminho oferecia riscos e não se candidatando a líder do seu partido, para depois trair o seu Secretário-Geral e os eleitores alfacinhas ao se propor a líder da oposição a partir do momento em que tudo parecia facilitado para o Secretário-Geral vir a ser entronizado como vencedor sem espinhos das próximas legislativas, apenas porque já só se punha em questão a dimensão da futura vitória do PS.
Apesar de tudo, não tenho tido dúvidas de a traição de Costa será perdoada face ao ódio a Passos, só que, ao contrário da Quadratura do Círculo, onde as suas críticas ao Governo são sempre apoiadas e ampliadas por Pacheco Pereira, ao abrir-se ao País, o atual Secretário-Geral mostrou-se vazio de ideias próprias, limitando-se a um jogo de cintura entre o declarar o que os Portugueses gostam de ouvir: o fim da austeridade; e o dizer que desfazerá tudo o que até aqui foi impopular, sem mostrar medidas compensatórias alternativas.
A verdade é que se Relvas criou condições para Costa reduzir as dívidas da sua Câmara, quando esta não era escrutinada e com isso tentou tirar louros só para si, embora, já tardiamente; ao liderar a oposição veio ao de cima a imposição prática de medidas habituais dos políticos quando estão no poder: taxa turística, jogadas de apoios a clubes em prejuízo do erário público, a incapacidade face ao problema das inundações e ao tirar do centro da cidade os carros mais antigos, normalmente pertencente aos mais pobres que ficam com a sobras da renovação da frota assegurada pelos mais ricos.
Em paralelo encomendou um estudo económico a gente independente para apresentar um programa alternativo: elogios e mais elogios, até ao momento que se começou a escrutinar as entrelinhas: aumento da idade da reforma, redução das novas pensões, continuação de cortes apenas com previsão de uma extensão menor se a economia correr de feição e logo António Costa assumiu que as coisas impopulares ainda não estavam aprovadas, só as boas, o que é “ótimo” 😉 para a credibilização de um projeto em debate que se suportava na consistência inicial e pior ainda ao mostrar o lado mais negro de Sócrates (a ameaça de jornalistas que comentassem menos favoravelmente a governação) e veio o SMS ao subdiretor do Expresso dirigido pelo mano Costa que não mostrou a sua solidariedade para com o colega da sua equipa.
Assim, não admira que António e Costa, que perspetivava uma imagem de salvador e de alternativa incontestável, comece a sentir os espinhos: é que Portugal é muito mais que o ódio de Pacheco Pereira e muitos outros a Passos Coelho e hoje as sondagens apontam para que o PS esteja empatado com a coligação PS/PSD-CDS.
Sou dos que acredita, por experiência de vida, na vitória nas legislativas do populismo, oportunismo e da elite lisboeta, mas a verdade é que o Povo já não é tão ignorante para que, face ao descontentamento com Primeiro-ministro, não veja também o desencanto e o vazio de ideias que é o Secretário-Geral do PS.
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