A única fábrica de transformação de pescado no Faial, propriedade da COFACO, fecha no próximo dia 15, após o despedimento de 22 contratados no início do ano e levando agora à deslocalização de 42 postos de trabalho do quadro para a ilha do Pico, na sua grande maioria ocupados por mulheres com baixa formação profissional.
Trabalhar na ilha em frente não é a mesma coisa que ter emprego na outra margem do rio. O mar tempestuoso no inverno é uma realidade frequente e dura, chega mesmo a impedir as ligações marítimas de passageiros.
São das classes pobres a maioria dos que trabalhavam na COFACO, vivem dispersos pela ilha e muitas vezes sem viatura própria. Numa terra onde o transporte coletivos é função dos horários do comércio e da função pública e não às ligações ao Pico.
Assim, muitos não têm condições se adaptarem bruscamente a uma realidade que obriga mães de famílias carenciadas a se levantarem às 5 da manhã e deixarem filhos, vários com problemas de saúde e em idade escolar, abandonados até à abertura de estabelecimentos de ensino horas depois e só os recolherem no final do dia após o regresso ao Faial ou de nem isso, caso a meteorologia o impessa.
Não se está perante pessoas que se candidataram para trabalhar noutra ilha, que negociaram o cargo para fins de carreira ou que programaram a sua vida, é uma imposição patronal repentina, onde a alternativa é o desemprego por recisão, com muitas dúvidas sobre se poderão ser indemnizados no futuro mais ou meno longínquo.
Tudo isto numa ilha com 16.000 habitantes, sem abundância de alternativas de emprego para esta gente e onde os 64 postos de trabalho são uma enormidade. Mesmo sem dissertar sobre o significado económico para o Faial desta situação.
Infelizmente, está-se perante um caso onde a solidariedade é bonita… mas não basta!
Porque é que o governo regional não interferiu desta vez nos despedimentos?
Como deves entender, eu não sou a pessoa mais adequada para fundamentar as opções do governo.
Pelo que li nalguns OCS, suspeito que existem contrapartidas de investimentos da empresa noutros sectores (fora do Faial) que permitem ao Governo dos Açores fechar os olhos ao que aqui se passou, mas não posso precisar nem confirmar esta suspeita.
Caro Carlos,
Concordando na integra consigo não posso, no entanto, deixar de salientar o seguinte: para além das questões sociais por si invocadas o mais grave, na minha opinião, é esta ser uma imposição da fábrica e não uma opção pessoal dos trabalhadores. Porque a questão dos horários dispersos, da falta de transporte, entre outras que salientou são uma realidade muito presente na nossa própria ilha. Senão vejamos os funcionários das padarias, da hotelaria e restauração. As mães que exercem estas profissões confrontam-se diariamente com todos os problemas sociais que invocou e a nossa solidariedade deve ser extensiva a estes casos. Mas a economia, para funcionar em pleno, muitos têm de se sujeitar a regras e horários que à maioria não agradam. Pelo que reforço, novamente, que a grande injustiça é esta mudança abrupta condicionando as iniciais opções profissionais, e de vida, dos trabalhadores da Cofaco.
Bia
Obrigado pelo seu contributo, a ideia de imposição repentina está bem marcada perto do final do texto e considero-a a razão porque o problema dos transportes e de adaptação se torna tão grave neste caso e não nos outros casos que trabalham na ilha em frente.
Adicionou a situação de outros empregos cujos horários não se adequam ao transporte público, é verdade e demonstra o que disse no texto “Numa terra onde o transporte coletivo é função dos horários do comércio e da função pública” mas a aceitação desses postos de trabalho teve reflexão prévia, o que não aconteceu no caso COFACO.
Acresce a possibilidade de retenção por questões meteorológicas em famílias que não tiveram escolha prévia.
Por isso penso que neste aspeto estamos mesmo os dois de acordo.
[…] O Faial viu a sua única fábrica de conservas de peixe, ampliada com apoio de fundos comunitários após a entrada de Portugal na CEE, ser encerrada e a respetiva atividade industrial ser transferida para a ilha do Pico. […]
[…] Lamentei em 2010 o fecho da fábrica do peixe da COFACO no Faial, logo após o período em que tal era viável sem ter de devolver os subsídios europeus que recebera. Então ofertaram aos seus trabalhadores faialenses vagas no Pico, não sei quantos dos que aceitaram continuam ainda a ir diariamente para a Madalena, mas foi um despedimento encapotado imposto de forma abusiva pela empresa a muitos. Volto a lamentar o despedimento agora daquela fábrica com a desculpa de construir uma nova sem se perceber das garantias aos novos desempregados. […]